Clínica Psiquiátrica Friedmatt/Basileia, junho-julho, 1955 Prezado colega! Recordando o nosso encontro e considerando sua gentil carta, permita-me uma pergunta que me aflige há mais tempo. Como psiquiatra o senhor sem dúvida conhece bem o fenômeno que pode ser parafraseado, usando-se a metáfora do Novo Testamento do cisco no olho do irmão e da trave no próprio olho. O conceito de projeção, que emprego para isso e que assumi diretamente de Freud, é muitas vezes criticado nos círculos existencialistas, sem que eu entenda o que ele tem de errado. Parece-me que ele designa corretamente o fato da ilusão e da suposição inconsciente, pois atribuo ao meu próximo o que eu possuo em grande quantidade. Eu o transfiro de certa forma para ele. Como o senhor também faz restrições ao meu conceito de projeção, eu ficaria muito grato se o senhor me esclarecesse de boa vontade este assunto. Qual é o termo que o senhor usa para isto? Ou o senhor nega simplesmente a existência desse processo? ...