Ao Dr. H. Alemanha, 30 de agosto de 1951. Prezado senhor H., O senhor precisa desculpar o meu longo silêncio. É que na primavera sofri muito do fígado e tive de ficar muitas vezes de cama. E nesse misere todo, ainda escrevi um pequeno ensaio (1) (cerca de 100 laudas datilografadas), cuja publicação me trouxe algumas preocupações. Tenho receio de estar mexendo um caldeirão de bruxas. Trata-se da mesma questão que o senhor levantou em sua carta de 1º de maio. Eu mesmo sinto que ainda não encontrei a formulação exata de minha resposta, isto é, aquele modo de exposição clara que pode transmitir ao público a minha concepção, sem provocar tantos mal-entendidos. O meu modus procedendi é naturalmente o empírico: como posso descrever satisfatoriamente o fenômeno “Cristo” sob o aspecto da experiência psicológica? As afirmações sobre Cristo são em parte afirmações sobre um homem empírico e, na maior parte, afirmações sobre um homem-deus mitológico. A partir dessas diversas afirmaçõe...