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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2024

To Laurens van der Post

To Laurens van der Post (1) Londres, 26 de dezembro de 1954.   Dear van der Post, Muito obrigado pelo gentil envio de seu livro Flamingo Feather (2). Foi a coisa mais linda que a grande onda de correspondência natalina trouxe à minha praia. Ele trouxe de volta as recordações já remotas de 30 anos atrás, mas de modo muito vivo as cores inesquecíveis, sons e aromas de dias e noites passados na selva. Sou grato àquele gênio – vultu mutabilis, albus et ater (3) – que entreteceu a experiência da África e de sua grandiosidade na teia de meu destino (4). Peço que aceite meu livrinho Resposta a Jó como retribuição humilde a seu generoso presente. Meus melhores votos e saudações ao senhor à senhora van der Post. Cordially yours, C. G. Jung.   (1)Laurens van der Post, nascido em 1906 na África do Sul, passou muitos anos viajando pela África, Japão, China e Indonésia. Há mais e vinte anos vive como escritor na Inglaterra. Muitas de suas obras têm como tema a África e...

À Aniela Jaffé

  À Aniela Jaffé Zurique, 26 de dezembro de 1954.   Prezada Aniela, Não sei o que mais admiro, se sua paciência, seu sentido do essencial e sua força descritiva, ou a penetração admiravelmente profunda de Broch no mistério da transformação, a perseverança e coerência dele e, finalmente, a maestria linguística dele (1). Em última instância, devo alegrar-se por não ter tido esta capacidade linguística, pois se a tivesse tido nos anos 1914-1918 (2), meu desenvolvimento posterior teria tomado outro rumo, menos condizente com minha natureza. Apesar disso, Broch e eu tivemos algo em comum: esmagados pela numinosidade das coisas vistas, um envolveu sua visão num nevoeiro impenetrável (ou quase assim) de imagens, enquanto o outro a cobriu com uma montanha de experiências práticas e paralelos históricos. Ambos quiseram mostrar e revelar, mas, por excesso de motivos, ambos ocultaram novamente o inefável e assim abriram novos caminhos laterais para o erro. Aconteceu-nos o mesmo q...

Ao Dr. Bernhard Martin

Kassel-Wilhelmshöhe/Alemanha, 07 de dezembro de 1954. Prezado Doutor, É muita gentileza sua submeter o seu manuscrito (1) à minha opinião. (...) Concordo com o senhor que o crente nada vai aprender de meu Resposta a Jó , pois ele já possui tudo. Desde minha tenra juventude fui levado a sentir que os crentes são ricos e sábios e muito pouco inclinados a escutar outra coisa qualquer. Reconheço francamente minha extrema pobreza no conhecimento pela fé e sugiro-lhe que feche estrondosamente o meu Reposta a Jó e escreva na capa como texto de orelhas o seguinte: “Aqui não há nada de proveitoso para o cristão que tem fé”. Estou de pleno acordo. Realmente, eu não abordo o que é “crível”, mas apenas o que é cognoscível. Parece-me que não estamos em condições de “gerar” ou “manter a fé”, pois ela é um carisma que Deus dá ou retira. Seria presunção imaginar que podemos decidir sobre ela. Por questão de brevidade, meus comentários são algo diretos e espontâneos. Espero que não os leve a...