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Aniela Jaffé (Zurique)


Carta à Aniela Jaffé (Zurique)
“Bollingen, 

12 de abril de 1949.

Prezada Aniela,
(...)
Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca.
(...)          
Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo.
Saudações cordiais, C. G.”
(1)Jung trabalhava na época no livro Aion que contém as ideias preliminares de “Resposta a Jó” e do ensaio sobre a sincronicidade.
(2) Aniela Jaffé havia dado duas conferências sobre a vida e o romance Séraphita, de Balzac.
(3) Senhor dos demônios.

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