Zurique,
18 de junho de 1949.
Prezado senhor Kesser,
Queria manifestar-lhe o meu sincero agradecimento por sua gentil recensão de meu livro Symbolik des Geistes (2). O senhor conseguiu apresentar este material difícil de forma tal que o leitor pode ter uma visão real de minhas ideias.
Gostaria apenas de chamar sua atenção para uma pequena discrepância: na perspectiva psicológica, não se pode designar o conceito do si-mesmo como summum bonum. Eu nunca fiz isso em parte alguma. Seria uma contradictio in adiecto, uma vez que, por definição, o si-mesmo representa uma união virtual de todos os opostos. Nem no sentido metafórico podemos designá-lo como summum bonum, pois ele não é um summum deisderatum, mas antes uma dira necessitas que assim é caracterizado por todas as qualidades desagradáveis. A individuação é tanto fatalidade quanto realização. A psicologia do si-mesmo não é filosofia, mas um processo empiricamente constatável que, enquanto processo natural, poderia transcorrer harmoniosamente, se não recebesse uma conotação trágica no ser humano pela colisão com a consciência.
Com elevada consideração, C. G. Jung."
(1) Armin Kesser, 1906-1960, crítica de literatura e de arte.
(2) A recensão foi publicada em Neuen Zürcher Zeitung, n. 1194, de 11 de junho de 1949 e n. 1223, de 15 de junho de 1949.
Ref. JUNG, C. G. Cartas: 1946-1955, Vol. II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 136.
Projeto Memória - Registro de transcrição das Cartas de Jung, tomando como referência 70 anos, como se fosse hoje. Esse projeto de pesquisa desenvolvido desde 2017, visa resgatar momentos históricos e reflexões pessoais de C. G. Jung.
Mais cartas: https://70anoscomosefossehoje.blogspot.com/
https://carljungdepthpsychologysite.blog/2018/09/23/carl-jung-the-concept-of-the-self-cannot-be-described-as-a-summum-bonum/#.XQjbGxZKjIU
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