A Georg Krauskopf
Stuttgart.
Prezado senhor,
31 de dezembro de 1949
O seu livro Die Heilslehre des Buddha (1949) chegou bem às minhas mãos. Entendo perfeitamente sua predileção por Buda. É algo magnífico. Eu visitei os lugares sagrados do budismo na Índia (1) e fiquei profundamente impressionado com eles, sem falar da leitura dos escritos budistas. Se eu fosse hindu, certamente seria budista. Mas no Ocidente temos outros pressupostos. Não temos atrás de nós um panteão hinduísta, mas um pressuposto judeu-cristão e uma cultura mediterrânea; por isso outras perguntas esperam resposta. Buda resolveria cedo demais a nossa conta e então aconteceria o que já aconteceu uma vez quando nós, europeus bárbaros, colidimos de repente e ruinosamente contra o riquíssimo fruto da Antiguidade – o cristianismo – e não com proveito para o nosso desenvolvimento interior. Algo em nós continuou bárbaro; na Índia as coisas são bem diferentes. Não somos hindus.
Em breve lerei o seu
livro com o maior interesse. Buda me “prende” sempre de novo. Como crítica,
observo apenas que lamento muito não ter as notas de rodapé junto ao texto.
Isto torna a leitura bastante cansativa; mas espero que numa próxima edição o
senhor coloque as notas ao pé da página. Para mim, os livros com as notas ao
final são quase ilegíveis.
Com meus agradecimentos
e saudações cordiais, C. G. Jung.
(1) Confira Memórias, sonhos, reflexões. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p. 274-283.
Referência Bibliográfica:
JUNG, C. G. Cartas: 1946-1955 - Vol. 2. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 145.
Referência Bibliográfica:
JUNG, C. G. Cartas: 1946-1955 - Vol. 2. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 145.
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