A Hermann Hesse
Montagnolha (Tessin)
19 de agosto de 1950.
Prezado senhor Hesse,
Entre as muitas
mensagens e felicitações que recebi pelos meus 75 anos, uma das quais mais me
surpreendeu e alegrou foi a sua. Agradeço especialmente a sua Morgenlandfahrt
(1) que separei para ler num momento de tranquilidade. Mas, desde o meu
aniversário, este momento ainda não chegou, pois fui cumulado de uma enxurrada
de cartas e visitas além do meu controle. Na minha idade trata-se de ir
“devagar e com cuidado”, e minha capacidade de trabalho já não é como era,
principalmente quando se tem no programa tanta coisa ainda a ser trazida à luz
do dia. Comecei um pouco tarde com isso devido à dificuldade dos temas que me
vieram à mente.
Permita-me enviar-lhe
como retribuição ao seu presente uma prova de prelo de minha última publicação
que aborda também o campo literário (2). O senhor também já se encontra na
categoria dos avançados em idade e por isso é capaz de entender bem a minha
preocupação.
Com meus agradecimento
e elevada consideração, C. G. Jung.
(1) H.
Hesse, Die Morgenlandfahrt, Zurique, 1932.
(2) Trata-se
provavelmente de “Psicologia e Poesia”, Obras Completas: Vol. 15.
Com a gentil
autorização de Heiner Hesse e da editora Suhrkamp transcrevemos a resposta de
Hermann Hesse, escrita de Montagnola e datada de inícios de setembro.
“Estimado Professor
Jung,
O senhor retribuiu a saudação
que julguei dever meu enviar-lhe por ocasião de sua festa com um presente
excepcional que me alegrou muito e que agradeço. A temática de seu novo livro
vem ao encontro dos meus interesses especiais, por isso espero tirar muito
proveito do livro e me alegro antecipadamente com sua leitura.
Entendo perfeitamente
sua preocupação de apresentar e colocar a salvo tanto trabalho planejado; o
mesmo acontece com toda pessoa produtiva quando chega a uma idade avançada. Sabemos
que em breve desapareceremos; estamos conformados no grande todo, mas assim
mesmo sentimos haver coisas por fazer.
Desejo-lhe ainda boa
safra desses frutos tardios e gostaria de ter a felicidade de ainda encontrá-lo
mais uma vez pessoalmente.
Saudações cordiais, H.
Hesse”.
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