Avançar para o conteúdo principal

Ao Prof. M. Bleuler

 Manfred Bleuler (4 января 1903 4 ноября 1994) - швейцарский ...

Ao Prof. M. Bleuler (1)

 

Kantonale Heilanstalt Burghölzli

 

Zurique

 

19 de agosto de 1950.

 

Prezado colega,

Sua gentil carta, com os votos de feliz aniversário (2), trouxe-me surpresa e grande alegria. Fiquei bastante comovido em receber esta mensagem cordial de meu antigo lugar de trabalho, onde começou tudo o que mais tarde aconteceu. Ainda mais que não tive o prazer de encontrá-lo em sua idade adulta. Lembro-me do senhor apenas como garoto, num tempo que para mim está no passado distante.

Mas estão vivas em minha lembrança as impressões e o estímulo que recebi de seu pai, a quem sempre serei grato. Devo muito à psiquiatria e sempre me conservei interiormente próximo a ela, pois desde o início me preocupou um problema bem geral: de que estrato procedem as ideias tão impressionantes da esquizofrenia? As questões daí resultantes levaram-me aparentemente para bem longe da psiquiatria clínica e fizeram-me perambular pelo mundo todo. Nessas viagens aventureiras descobri tantas coisas que nunca sonhei em Burghölzli; mas a maioria rigorosa de observar, que lá aprendi, acompanhou-me por toda parte e ajudou-me a entender objetivamente a estranha psique.

Ao agradecer a sua cordial mensagem, gostaria que transmitisse os meus agradecimentos também a todos aqueles que tiveram a gentileza de assinar a sua carta.

Com saudações do colega, C. G. Jung.

(1)  Dr. Manfred Bleuler, nascido em 1903, professor de psiquiatria na Universidade de Zurique e diretor da clínica psiquiátrica de Burghölzli (1942-1970), filho e continuador do Prof. Eugen Bleuler.

(2)  Jung havia festejado o seu 75º aniversário no dia 26 de julho de 1950.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aniela Jaffé (Zurique)

Carta à Aniela Jaffé (Zurique) “Bollingen,  12 de abril de 1949. Prezada Aniela, (...) Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca. (...)            Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo. Saudações cordiai...

Ao Dr. Hans A. Illing

Los Angeles (Calif. EUA), 26 de janeiro de 1955.   Prezado Doutor, Enquanto médico, considero a perturbação psíquica (neurose ou psicose) uma doença individual; e assim deve ser tratada a pessoa. No grupo o indivíduo só é atingido na medida em que é membro do mesmo (1). Em princípio isto é um grande alívio, pois no grupo a pessoa é preservada e está afastada de certa forma. No grupo o sentimento de segurança é maior e o sentimento de responsabilidade é menor. Certa vez entrei com uma companhia de soldados numa terrível geleira coberta de névoa espessa. A situação foi tão perigosa que todos tiveram que ficar no lugar onde estavam. Não houve pânico, mas um espírito de festa popular! Se alguém estivesse sozinho ou apenais em dois, a dificuldade da situação não teria sido levada na brincadeira. Os corajosos e experientes tiveram oportunidade de brilhar. Os medrosos puderam valer-se da intrepidez dos mais afoitos e ninguém pensou alto na possibilidade de um bivaque improvisado na ...

A uma destinatária não identificada

Bollingen, 31 de julho de 1954.   Dear N., Durante o tumulto do congresso (1) não tive tempo de examinar seus dois sonhos. Eles possuem alguns aspectos confusos. O primeiro sonho tenta demonstrar-lhe que o símbolo de uma união sexual perfeita significa a imagem ctônica da unidade no si-mesmo. Esta tentativa se choca logo com sua divisão entre o em cima e o embaixo, e a senhora começa a pergunta-se se não deveria ter-se mantido do lado ctônico. É evidente que deve fazer isto, sem contudo, perder de vista o aspecto espiritual. Sexualidade e espírito – ambos são um e o mesmo no si-mesmo, ainda que o seu ego seja dominado por seu lado ctônico sempre um pouco fraco demais. Neste caso a senhora corre o perigo de perder-se completamente nele, apoiada num animus idiota que só pode captar um ou outros por vez. Enquanto estiver no si-mesmo, ambos os aspectos estão vivos porque são um e o mesmo, ainda que nossa consciência do eu os distinga. Finalmente, o ego deve ceder e restringir-...