To Dra.
Beatrice Hinkle (1)
Nova
Iorque, 06 de fevereiro de 1951.
Dear Dra.
Hinkle,
Devo-lhe
muitos agradecimentos pelo gentil envio do livro de Donald Keyhoe sobre os
discos voadores (2). Já li diversos livros sobre o assunto e achei que o melhor
deles é o de Gerald Heard, The Riddle of the Flying Saucers (3), que eu posso
recomendar-lhe.
Surpreende-me
o fato de que tal fenômeno, testemunhado ao que parece por ao menos centenas de
pessoas, não tenha sido objeto de mais fotos e tratado da maneira conveniente –
sobretudo em vista de sua possível grande importância. Naturalmente já
aconteceu várias vezes que assuntos da maior relevância não tenham recebido a
devida atenção de seu tempo. Contudo, é muito curioso que não se tenha chegado
neste caso a uma evidência satisfatória, ao menos quanto eu sabia.
Estou simplesmente
perplexo diante desses fenômenos, porque ainda não consegui ter certeza
suficiente se tudo não passa de um boato, envolvendo alucinação individual e
coletiva, ou se um fato concreto. Ambos os casos seriam de grande interesse. Se
for um boato, a aparição dos discos deve ser um símbolo criado pelo
inconsciente. Sabemos o que isto poderia significar do ponto de vista psicológico.
Se, no entanto, for um fato real e concreto, estamos diante de alguma coisa
totalmente incomum. Numa época em que o mundo é dividido por uma cortina de
ferro – algo jamais visto na história humana – podemos esperar qualquer tipo de
coisa estranha: quando semelhante coisa acontece a um indivíduo, isto significa
uma dissociação completa que é compensada imediatamente por símbolos de
totalidade e unidade. O fenômeno dos discos voadores pode ser tanto boato como
fato real ao mesmo tempo. Neste caso teríamos o que chamo de sincronicidade. É pena
que não saibamos o suficiente sobre isto.
Agradeço também
a sua oferta de me enviar os livros de Betty (4). Penso que os tenho todos. É incrível
como esta mulher farejou a espécie de psicologia que compensa o nosso estado
moderno da consciência. Esta moça foi realmente uma profetisa. Escrevi um
pequeno prefácio para uma edição em língua alemã de The Unobstructed Universe
que foi publicada aqui na Suíça.
A edição revista
de Psycholology of the Unconscious está sendo finalmente impressa, isto é, a edição
alemã, é claro. Sairá com o novo titulo Símbolos da Transformação.
Exceto os
Essays on a Science of Mythology (em colaboração com Kerényi (5), nada foi
publicado por ora em inglês, mas diga-me se quer que lhe mande algum de meus
livros em alemão, e quais.
Como vê,
ainda trabalho um pouco, mas procuro descansar o máximo. Espero que a senhora
faça o mesmo.
Com meus agradecimentos
e melhores votos, C. G. Jung.
(1)
Dra. Med. Beatrice Hinkle (1874-1953), psicóloga
analítica, tradutora de Transformações e Símbolos da Libido, 1912.
(2) Donald Edward Keyhoe,
Flying Saucers are Real, Nova Iorque, 1950.
(3) Gerald Heard, Is
Another World Watching? The Riddle of the Flying Saucers, Londres 1950, Nova
Iorque, 1951.
(4)
Confira carta a Künkel, de 10.07.1946, nota 2.
(5)
Jung-Kerényi, Einführung in das Wesen der
Mythologie, Zurique 1951; a edição inglesa já fora publicada em 1949 (Bollingen
Series, Nova Iorque).
Comentários
Enviar um comentário