Avançar para o conteúdo principal

Excerto de carta à Aniela Jaffé

 

Zurique, 18 de julho de 1951.

 

Prezada Aniela,

(...)

Alegro-me especialmente pelo fato de a senhora ter conseguido penetrar no sentido da segunda parte de meu escrito (1). A maioria dos leitores ficou só na primeira parte. Eu pessoalmente prefiro a segunda parte porque está ligada à questão do presente e futuro. Se existe algo como ser arrebatado violentamente por um espírito, então foi desse modo que nasceu este escrito.

(...)

 

(1) Trata-se do manuscrito de Resposta a Jó.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aniela Jaffé (Zurique)

Carta à Aniela Jaffé (Zurique) “Bollingen,  12 de abril de 1949. Prezada Aniela, (...) Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca. (...)            Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo. Saudações cordiai...

To Dr. Michael Fordham (1)

Londres, 18 de junho de 1954.   Dear Fordham, Sua carta traz más notícias; senti muito que não tenha conseguido o posto no Instituto de Psiquiatria (2), ainda que seja um pequeno consolo para o senhor que tenham escolhido ao menos um de seus discípulos, o Dr. Hobson (3). Depois de tudo, o senhor se aproxima da idade em que a gente deve familiarizar-se com a dolorosa experiência de ser superado. O tempo passa e inexoravelmente somos deixados para trás, às vezes mais e às vezes menos; e temos de reconhecer que há coisas além de nosso alcance que não deveríamos lamentar, pois esta lamentação é um remanescente de uma ambição por demais jovem. Nossa libido continuará certamente querendo agarrar as estrelas, se o destino não tornasse claro, além de qualquer dúvida razoável, que devemos procurar a perfeição dentro e não fora... infelizmente! Sabemos que há muito a melhorar no interior da pessoa, de modo que devemos agradecer à adversidade quando ela nos ajuda a reunir a energia ...

À Aniela Jaffé

  Zurique, Bollingen, 06 de abril de 1954.   Prezada Aniela! Muito obrigado pela excelente recensão (1), na qual nada tenho a corrigir! Entre tanta porcaria que recebo em minha casa sobre as minhas obras, é deveras gratificante encontrar também algo sensato e amável. Eu me pergunto muitas vezes por que a maioria dos “críticos” é tão inamistosa e sem objetividade. Será que meu estilo é muito irritante, ou que coisa há em mim que ofenda tanto os outros? Em Resposta a Jó isto é compreensível, pois foi intencionado fazer isto. Mas agora estou bastante aborrecido. Seus piedosos votos de tempo bom só se cumpriram no domingo, mas de modo total. Agora o tempo está pior, de modo que só dá para ficar atrás do fogão. Minha ocupação principal é cozinhar, comer e dormir. Entrementes estou escrevendo uma longa carta ao padre White (2). Ele escolheu – graças a Deus – o melhor caminho, isto é, enfrentar suas dificuldades com toda honestidade. Vejo agora com absoluta clareza que minh...