Alemanha, 01 de novembro de 1951.
Prezado
senhor,
Infelizmente
estou atrasado com a minha resposta. Estive viajando nas férias e por isso sua
carta ficou esperando.
O senhor
experimentou em seu casamento aquilo que é praticamente um fato geral, isto é,
que as pessoas são diferentes umas das outras. Basicamente, cada um permanece
para o outro um enigma inescrutável. Nunca existe completa concordância. Se o
senhor cometeu um erro, foi o de ter insistido demais em entender totalmente
sua esposa, não levando em conta que as pessoas, no fundo, não querem saber
quais os segredos que dormitam no mais profundo de sua alma. Quando se tenta
penetrar demais numa pessoa, percebe-se que estamos forçando nela uma posição
de defesa e despertando sua resistência. Através de nossa tentativa de
penetração e compreensão ela se vê forçada a examinar dentro dela aquelas coisas
que não gostaria de examinar. Cada pessoa tem seu lado escuro, do qual –
enquanto as coisas vão bem – é melhor que nada saiba. Disso o senhor não tem
culpa. Trata-se de uma verdade humana, universal. E ela é verdadeira apesar de
muitas pessoas lhe garantirem que gostariam de saber tudo a respeito de si
mesmas. É bem provavelmente que sua esposa tivesse muitos pensamentos e
sentimentos que lhe eram desagradáveis e gostaria de esconder, inclusive de si
mesma. Isto é simplesmente humano. Esta é a razão de muitas pessoas mais velhas
se fecharem em seu isolamento onde não querem ser perturbadas. E trata-se
sempre de coisas sobre as quais não se quer ter consciência bem clara. Certamente
o senhor não é culpado da existência desses conteúdos psíquicos. Se, apesar
disso, for atormentado por sentimentos de culpa, pense em pecados que nunca
cometeu e gostaria de ter cometido. Isso pode curá-lo provavelmente de seus
sentimentos de culpa para com a sua esposa.
Saudações
cordiais,
C. G.
Jung.
(1)
Não dispomos do relato do sonho, anexo à carta.
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