Avançar para o conteúdo principal

Maria Folino Weld

Westtown (Massachuts) USA, 05 de dezembro de 1951.

 

Dear Miss Weld,

Peço desculpas por estar atrasado com a resposta à sua carta. É que estive doente na primeira parte do verão, e minha correspondência se acumulou de tal forma que não consegui mais colocá-la em dia.

Sua carta é interessante (1). Uma revista desse gênero pode ser muito proveitosa, se planejada corretamente e com bons colaboradores que tentam ser objetivos e não queiram apenas ventilar as suas neuroses.

O livro de Glover (2) – descontadas as suas qualidades mais venenosas – é divertido: é exatamente como aqueles panfletos que se escreviam contra Freud nos primeiros anos. Naquela época eram expressão de ressentimentos, pois Freud havia pisado nos calos das pessoas. O mesmo vale para Glover. Uma crítica como a dele é sempre suspeita de compensar uma inclinação inconsciente em outra direção. Ele certamente não é tão estúpido para não entender o meu ponto de vista, mas eu toquei em seu ponto fraco onde ele reprime sua melhor introspecção e sua crítica latente à sua superstição freudiana. Ele é um pouco fanático demais. Fanatismo significa sempre dúvida supercompensada. Ele simplesmente abafa o grito de sua crítica interna e por isso o seu livro é divertido.

Wishing you every success, I remain,

Yours sincerely,

C. G. Jung

 

(1) Miss Wild havia pedido a Jung “sua benção” para seu plano de publicar uma revista para não-junguianos sobre a psicologia de Jung.

(2)  Edward Glover, Freud or Jung, Londres 1950.

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Ao Dr. Hans A. Illing

Los Angeles (Calif. EUA), 26 de janeiro de 1955.   Prezado Doutor, Enquanto médico, considero a perturbação psíquica (neurose ou psicose) uma doença individual; e assim deve ser tratada a pessoa. No grupo o indivíduo só é atingido na medida em que é membro do mesmo (1). Em princípio isto é um grande alívio, pois no grupo a pessoa é preservada e está afastada de certa forma. No grupo o sentimento de segurança é maior e o sentimento de responsabilidade é menor. Certa vez entrei com uma companhia de soldados numa terrível geleira coberta de névoa espessa. A situação foi tão perigosa que todos tiveram que ficar no lugar onde estavam. Não houve pânico, mas um espírito de festa popular! Se alguém estivesse sozinho ou apenais em dois, a dificuldade da situação não teria sido levada na brincadeira. Os corajosos e experientes tiveram oportunidade de brilhar. Os medrosos puderam valer-se da intrepidez dos mais afoitos e ninguém pensou alto na possibilidade de um bivaque improvisado na ...

Aniela Jaffé (Zurique)

Carta à Aniela Jaffé (Zurique) “Bollingen,  12 de abril de 1949. Prezada Aniela, (...) Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca. (...)            Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo. Saudações cordiai...

À Aniela Jaffé

  À Aniela Jaffé Zurique, 26 de dezembro de 1954.   Prezada Aniela, Não sei o que mais admiro, se sua paciência, seu sentido do essencial e sua força descritiva, ou a penetração admiravelmente profunda de Broch no mistério da transformação, a perseverança e coerência dele e, finalmente, a maestria linguística dele (1). Em última instância, devo alegrar-se por não ter tido esta capacidade linguística, pois se a tivesse tido nos anos 1914-1918 (2), meu desenvolvimento posterior teria tomado outro rumo, menos condizente com minha natureza. Apesar disso, Broch e eu tivemos algo em comum: esmagados pela numinosidade das coisas vistas, um envolveu sua visão num nevoeiro impenetrável (ou quase assim) de imagens, enquanto o outro a cobriu com uma montanha de experiências práticas e paralelos históricos. Ambos quiseram mostrar e revelar, mas, por excesso de motivos, ambos ocultaram novamente o inefável e assim abriram novos caminhos laterais para o erro. Aconteceu-nos o mesmo q...