Bollingen, 30 de
dezembro de 1951.
Dear Alice,
Muito obrigado por sua
coletânea suculenta de delícias culinárias! Cheguei apenas ontem e ainda estou
um pouco cansado dos festejos natalinos. Estou praticando a nobre arte de
dormir. Depois de algum tempo tentarei aventurar-me ao terceiro estágio da coniunctio (1), mas por enquanto estou
carregando o tormento de escrever cartas. Somente através da submissão a
deveres detestáveis ganha-se algum sentimento de libertação que induz a uma
disposição criativa. A longo prazo, ninguém pode roubar a criação. (...)
Fico satisfeito que
gostou de nossa reunião do clube. Ela realizou-se exatamente no dia mais curto.
Agora a luz já aumenta de novo. Eu a saudei com a saudação antiga:
caire
numfie neon fwz
(Bem-vindo, noivo nova
luz) (2).
Há grande agitação na
Igreja católica e muita discussão sobre o novo dogma (3). Estou lendo alguma
coisa sobre isso. O Papa os prendeu em suas próprias redes, pois estimularam
crenças que não tinham fundamento nas escrituras.
Com os melhores votos
para o Ano Novo!
Yours affectionnately,
C. G.
(1) O
alquimista Gerardo Dorneo descreve três estágios de conjunção em sua “Philosophia
Meditativa”, em Theatrum Chemicum,
Ursel 1602. No terceiro estágio trata-se de uma unificação do homem com o “unus
mundus” (também chemado “mundus archetypus”); isto é, da conscientização de sua
concordância com o Uno do mundo inteiro que é tanto psíquico como físico. Cf. o
capítulo “O terceiro grau da conjunção”, em Mysterium
Coniunctionis II.
(2) Firmicus
Maternus (século IV) transmitiu a fórmula como saudação a Deus nos mistérios de
Dioniso, em De errore profanarum religionum,
Ed. por K. Ziegler, Leipzig 1907. Cf. Símbolos da transformação, 1952; OC, vol.
V, § 487, nota 20.
(3) O
dogma da Assunção de Nossa Senhora, 1950.
Comentários
Enviar um comentário