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To Mr. J. Wesley Neal

Long Beach (Calif.)/ EUA, 09 de fevereiro de 1952.

 

Dear Sir,

Não é fácil responder à sua pergunta sobre a “ilha da paz”. Parece-me que possuo uma porção delas, uma espécie de arquipélago de paz. Algumas das ilhas principais são: meu jardim, a vista das montanhas longínquas, minha casa de campo para onde vou quando quero fugir do barulho da vida na cidade, minha biblioteca. Também coisas pequenas, como livros, quadros e pedras.

Quando estive na África, o guia do meu safári, um somali muçulmano, contou-me o que seu chefe de tribo lhe havia ensinado sobre o Chadir: “Ele pode aparecer-lhe como uma luz sem chama e sem fumaça, ou como um homem na estrada, ou como uma folhinha de capim”.

Espero que isto responda à sua pergunta.

Yours sincerely,

C. G. Jung.

JUNG, C. G. Cartas: 1946-1955. Vol. 2. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 215.

Foto: Jardim da casa de C. G. Jung 

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