Paris, 03 de dezembro de 1952.
Cher Monsieur,
Agradeço o livro que me enviou (1). Eu o
li realmente do começo ao fim. Isto não me acontece com frequência ou quase
nunca quando se trata de poesia moderna ou de arte moderna em geral. Estas coisas
me repugnam, mas alguns de seus poemas eu os li até mais de uma vez. Seus versos
têm algo de vivo e real, uma vivência genuína, uma centelha de fogo divino e
infernal. Por isso tenho empatia por eles. Não é um monte infantil de cacos, tirado
de uma vida sem visão e sem busca. Foi a primeira vez que senti prazer numa
poesia moderna. Eu o parabenizo por este sucesso, totalmente inesperado para
mim. Que bom que sua poesia tenha algo a dizer e – graças a Deus – também o diz!
Ela fala a linguagem eterna, a linguagem dos símbolos que nunca deixa de ser
verdadeira e é compreendida “semper, ubique, ab omnibus”.
Agréez, cher Monsieur, l’expression de ma
sincère reconaissance.
Votre très obligé, C. G. Jung.
(1)Trata-se do livro de poesias de Noël Pierre (pseudonônimo do Conde Pierre Crapon de Caprona), Soleil Noir, Paris 1952 (cf. carta a Schmied, de 05 de novembro de 1942, nota 3). Segundo informação do autor, a editora teria enviado o livro a umas 50 pessoas. Só Jung havia acusado o recebimento. Em seu ensaio “A árvore filosófica”, Jung cit alguns versos do canto XXVI e XXVII como exemplo de uma vivência autêntica do inconsciente (cf. OC, vol. 13, § 348s).
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