Baarn/Holanda, 11 de fevereiro de 1953.
Prezada e distinta senhora!
Só posso confirmar sua impressão sobre a
disposição geral de ajudar. Aqui na Suíça participamos intensamente da terrível
catástrofe que atingiu o seu país (1). Visto superficialmente, temos de
considerar esta disponibilidade de ajuda como um sinal positivo do sentimento
de solidariedade humana. Mas como a senhora vê corretamente, há algo mais
profundo nisso, isto é, a pressão que pesa sobre toda a Europa e o medo mais ou
menos patente da possibilidade de uma catástrofe ainda maior. Historicamente
considerada, a situação política atual é única, como se uma cortina de ferro
dividisse o mundo em duas partes que mantêm, por assim dizer, o equilíbrio da
balança. Ninguém sabe a resposta para este problema. Mas sempre que o homem se
defronta com uma pergunta ou situação sem resposta, em seu inconsciente se
constelam arquétipos correspondentes. A primeira coisa que isto produz é uma
inquietação geral do inconsciente, traduzida em medo, que faz com que as
pessoas procurem mais união para defender-se do perigo. Quando ocorre uma
catástrofe como a holandesa, as pessoas se lembram de estar vivendo sob a
ameaça de um perigo maior ainda. Sob este aspecto a fúria dos elementos,
tempestades e inundações são um símbolo do possível fim de nosso mundo.
Com elevada consideração, C. G. Jung.
(1)Nos primeiros dias de fevereiro de
1953, a Holanda foi assolada por uma inundação catastrófica. A destinatária
havia perguntado a Jung sobre os fundamentos psicológicos da resposta de
solidariedade mundial a esta desgraça.
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