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Au Docteur Henri Flournoy

 


Au Docteur Henri Flournoy

Genebra, 12 de fevereiro de 1953.

 

Cher Confrère,

Sempre tive minhas restrições a uma autobiografia, pois nunca se pode dizer a verdade. Se a gente for sincero, ou acredita ser sincero, isto é uma ilusão ou mau gosto. Recentemente fui solicitado, por parte de americanos, a dar minha contribuição para uma tentativa de biografia na forma de entrevistas. Alguém deveria começar este trabalho após o ano novo, mas até agora nada aconteceu. Eu pessoalmente não tenho a mínima vontade de escrever um romance ou um poema sobre esta bizarra experiência, chamada vida. A mim basta tê-la vivido. Minha saúde não está bem; tenho quase 78 anos de idade – segundo Cícero o “tempus maturum mortis” (1). Lamento não poder dar-lhe uma informação mais satisfatória.

Agréez, cher Confrère, l’expression de ma parfeite considération. (Aceite, caro colega, a expressão da minha perfeita consideração).

C. G. Jung.

 

(1)“O tempo maduro para a morte”.

Cher Confrère - Querido confrade.

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