To Rev. S. C. V. Bowman (1)
Canterbury, Kent/Inglaterra, 10 de
dezembro de 1953.
Dear Sir,
O seu problema do liberium arbitrium (2) tem obviamente vários aspectos, que eu não
saberia como abordar nos limites de uma carta. Só posso dizer que, até onde a
consciência chega, a vontade é entendida como sendo livre, isto é, que o
sentimento de liberdade acompanha nossas decisões, não importando se elas são
realmente livres ou não. Esta última questão não pode ser decidida
empiricamente. Onde a pessoa não está consciente aí obviamente não pode haver
liberdade. Através da análise do inconsciente amplia-se o horizonte da
consciência e cresce automaticamente o grau de liberdade. Uma consciência plena
significaria uma liberdade e responsabilidade igualmente plenas. Se os
conteúdos inconscientes que se aproximam da esfera da consciência não foram
analisados e integrados, então a esfera da liberdade fica diminuída pelo fato
de tais conteúdos serem ativados e ganharem mais influência compulsiva sobre a
consciência do que se fossem totalmente inconscientes. Não creio que haja
maiores dificuldades nesta linha de abordagem. Parece-me que a verdadeira
dificuldade começa com o problema de como lidar com os conteúdos integrados,
que antes eram inconscientes. Isto, porém, não pode ser tratado numa carta.
Esperando vê-lo na primavera, sou
Yours sincerely,
C. G. Jung
(1)S. C. V. Bowman, sacerdote da Igreja
Episcopal nos Estados Unidos. Ao tempo desta carta estava estudando na
Inglaterra.
(2)Livre-arbítrio. O Rev. Bowman havia
expresso sua preocupação de que a psicologia de Jung poderia destruir “man’s
divinely given free-will” - “o livre arbítrio divinamente dado ao homem”.
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