Zurique, Bollingen, 06 de abril de 1954.
Prezada Aniela!
Muito obrigado pela excelente recensão
(1), na qual nada tenho a corrigir! Entre tanta porcaria que recebo em minha
casa sobre as minhas obras, é deveras gratificante encontrar também algo
sensato e amável. Eu me pergunto muitas vezes por que a maioria dos “críticos”
é tão inamistosa e sem objetividade. Será que meu estilo é muito irritante, ou
que coisa há em mim que ofenda tanto os outros? Em Resposta a Jó isto é
compreensível, pois foi intencionado fazer isto. Mas agora estou bastante aborrecido.
Seus piedosos votos de tempo bom só se
cumpriram no domingo, mas de modo total. Agora o tempo está pior, de modo que
só dá para ficar atrás do fogão. Minha ocupação principal é cozinhar, comer e
dormir. Entrementes estou escrevendo uma longa carta ao padre White (2). Ele
escolheu – graças a Deus – o melhor caminho, isto é, enfrentar suas
dificuldades com toda honestidade. Vejo agora com absoluta clareza que minha
psicologia representa um desafio fatal para um teólogo e, ao parece, não só
para ele.
Eu me observo na tranquilidade de
Bollingen e, com toda a minha experiência de quase oito décadas, devo admitir
que não encontrei uma resposta satisfatória para mim mesmo. Estou agora, como
antigamente, em dúvida sobre mim mesmo, e tanto mais quando procuro dizer algo
definitivo. É como se, através disso, ficasse ainda mais afastado da
familiaridade comigo mesmo.
Cordialmente, C. G. Jung.
(1)“C. G. Jung: “Von den Wurzeln des
Bewusstseins”, em Tages-Anzeiger für Stadt um Kanton Zürich, 29.04.1954.
(2)Confira carta a White, de 10 de abril
de 1954.
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