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To Dr. Michael Fordham (1)

Londres, 18 de junho de 1954.

 

Dear Fordham,

Sua carta traz más notícias; senti muito que não tenha conseguido o posto no Instituto de Psiquiatria (2), ainda que seja um pequeno consolo para o senhor que tenham escolhido ao menos um de seus discípulos, o Dr. Hobson (3).

Depois de tudo, o senhor se aproxima da idade em que a gente deve familiarizar-se com a dolorosa experiência de ser superado. O tempo passa e inexoravelmente somos deixados para trás, às vezes mais e às vezes menos; e temos de reconhecer que há coisas além de nosso alcance que não deveríamos lamentar, pois esta lamentação é um remanescente de uma ambição por demais jovem. Nossa libido continuará certamente querendo agarrar as estrelas, se o destino não tornasse claro, além de qualquer dúvida razoável, que devemos procurar a perfeição dentro e não fora... infelizmente! Sabemos que há muito a melhorar no interior da pessoa, de modo que devemos agradecer à adversidade quando ela nos ajuda a reunir a energia livre necessária para lidar com a deficiência de nosso desenvolvimento, isto é, com o que “foi destruído pelo pai e pela mãe” (4). Neste sentido, uma perda desse tipo é puro ganho.

Cordially yours, C. G. Jung.

 

(1)Michael Fordham, nascido em 1909, psiquiatra e psicólogo analista em Londres. Co-editor das “Collected Works”, de Jung. Obra, entre outras: New Developments in Analytical Psychology, Londres 1957 – prefácio de Jung em  Vol. 18).

(2)The Institute of Psychiatry, Maudsley Hospital, Londres.

(3)Dr. Med. Robert F. Hoson, psicólogo analista.

(4)No hexagrama 18 do I Ching: “O trabalho sobre o que foi destruído”, fala-se do “consertar o que foi destruído pela mãe” e do “consertar o que foi destruído pelo pai”.

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