Avançar para o conteúdo principal

To Eugene M. E. Rolfe

Londres, 01 de maio de 1954.

 

Dear Mr. Rolfe,

Muito obrigado por seu interessante artigo sobre “Rival Gods” (1). O senhor faz uma pergunta bem pertinente (2). Temo que não haja ninguém para respondê-la, ao menos não no sentido da nossa tradição. O senhor consegue imaginar um verdadeiro profeta ou salvador em nossos dias de televisão e reportagens jornalísticas? Sua popularidade haveria de acabar com ele em poucas semanas. E, assim mesmo, espera-se por uma resposta. O senhor aponta com razão o vazio de nossas almas e a perplexidade de nossa mente quando devemos dar uma resposta que seja tão precisa, simples e compreensível como, por exemplo, o marxismo. O pior é que a maioria de nós acredita nos mesmos ideais e ou em ideais semelhantes. A humanidade como um todo ainda não entendeu que a decisão última está em suas mãos. Ainda está possessa de deuses irados e faz a vontade deles. São poucos os que reconhecem a verdadeira situação e sua desesperadora urgência.

Estou satisfeito que tenha formulado a pergunta.

Sincerely yours, C. G.

 

(1)E. Rolfe, “Rival Gods”, The Hibbert Journal, Vol. LII, abril de 1954.

(2)E. Rolfe conclui seu ensaio sobre os “Rival Gods”, isto é, EUA e Rússia com a pergunta: quem haveria de mostrar à humanidade a verdade espiritual ou religiosa pela qual valeria a pena engajar-se?

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Ao Dr. Hans A. Illing

Los Angeles (Calif. EUA), 26 de janeiro de 1955.   Prezado Doutor, Enquanto médico, considero a perturbação psíquica (neurose ou psicose) uma doença individual; e assim deve ser tratada a pessoa. No grupo o indivíduo só é atingido na medida em que é membro do mesmo (1). Em princípio isto é um grande alívio, pois no grupo a pessoa é preservada e está afastada de certa forma. No grupo o sentimento de segurança é maior e o sentimento de responsabilidade é menor. Certa vez entrei com uma companhia de soldados numa terrível geleira coberta de névoa espessa. A situação foi tão perigosa que todos tiveram que ficar no lugar onde estavam. Não houve pânico, mas um espírito de festa popular! Se alguém estivesse sozinho ou apenais em dois, a dificuldade da situação não teria sido levada na brincadeira. Os corajosos e experientes tiveram oportunidade de brilhar. Os medrosos puderam valer-se da intrepidez dos mais afoitos e ninguém pensou alto na possibilidade de um bivaque improvisado na ...

Aniela Jaffé (Zurique)

Carta à Aniela Jaffé (Zurique) “Bollingen,  12 de abril de 1949. Prezada Aniela, (...) Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca. (...)            Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo. Saudações cordiai...

À Aniela Jaffé

  À Aniela Jaffé Zurique, 26 de dezembro de 1954.   Prezada Aniela, Não sei o que mais admiro, se sua paciência, seu sentido do essencial e sua força descritiva, ou a penetração admiravelmente profunda de Broch no mistério da transformação, a perseverança e coerência dele e, finalmente, a maestria linguística dele (1). Em última instância, devo alegrar-se por não ter tido esta capacidade linguística, pois se a tivesse tido nos anos 1914-1918 (2), meu desenvolvimento posterior teria tomado outro rumo, menos condizente com minha natureza. Apesar disso, Broch e eu tivemos algo em comum: esmagados pela numinosidade das coisas vistas, um envolveu sua visão num nevoeiro impenetrável (ou quase assim) de imagens, enquanto o outro a cobriu com uma montanha de experiências práticas e paralelos históricos. Ambos quiseram mostrar e revelar, mas, por excesso de motivos, ambos ocultaram novamente o inefável e assim abriram novos caminhos laterais para o erro. Aconteceu-nos o mesmo q...