Caracas/Venezuela, 13 de julho
de 1954.
Prezado senhor,
Muito obrigado por sua amável
carta. Quanto aos meus livros, posso dizer que nenhum deles apresenta uma
síntese ou fundamento, ao menos na minha opinião. Não sou filósofo, que pudesse
fazer algo tão ambicioso, mas um empírico que apresenta os progressos de suas
experiências; por isso minha obra não tem um início absoluto nem um fim
abrangente. É como a vida de uma pessoa que de repente se torna visível em
algum lugar, que se baseia em pressupostos determinados mais invisíveis, e que
portanto não tem um verdadeiro início nem verdadeiro fim, cessando
repentinamente e deixando para trás questões que deveriam ter sido respondidas.
O senhor não conhece ainda os meus últimos escritos (talvez os mais
importantes). Incluo por isso uma lista deles.
Quanto aos escritos de Ouspensky
(1) e Gurdieff (2), sei o bastante sobre eles para não perder o meu tempo.
Estou à procura de verdadeiro conhecimento e evito toda especulação não
comprovável. Já vi demais disso, como psiquiatra. O senhor poderia
aconselhar-se também Isis Unveiled,
de Mme. Blavatsky ou a volumosa obra de Rudolg Steiner ou de Bô Yin Râ (3)
(porque não Schneiderfranken?). Em todo caso, agradeço sua boa intenção.
É tão difícil estabelecer fatos,
que eu detesto tudo o que os obscurece. O senhor pode atribuir-me uma déformation profissionnele por causa
disso.
Concordo com o senhor sobre a
liberdade de pensamento. Mas o comunista não cabe nesta categoria, porque ele
não pensa; ele age de maneira perigosa para o mundo em geral. Se ele pensasse,
já teria descoberto há muito tempo o seu embuste.
Peço que desculpe minha
“liberdade de pensamento”.
Com elevada consideração, C. G.
Jung.
(1)Peter D. Ouspensky,
1878-1947, matemático e escritor russo, cf. sua obra In Search of the
Miraculous, 1950. Partindo das ciências naturais, ocupa-se principalmente do
esoterismo ocidental e oriental; desde 1914 trabalhou com George I. Gurdieff.
Na Inglaterra, França e EUA vivem grupos que seguem suas regras;
(2)George Ivanovitch Gurdieff,
1877-1949, escritor russo, cf. seu All and Everything, 1950. Estudou as
doutrinas esotéricas da Ásia central. Em 1922, fundou o “Institute for the
Harmonious Development of Man”, em Fontainebleau.
(3)Bô Yin Râ, pseudônimo do
escritor e pintor alemão Josef Anton Shneiderfranken, 1876-1943.
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