Duke University
Durham (N. C.) EUA, 09 de agosto de 1954.
Dear Dr. Rhine,
Obrigado por sua gentil carta.
A tradução inglesa de "Synchronizität"
será publicada pela Bollingen Press. O tradutor é o Mr. Hull, que está
traduzindo minhas obras completas. Ele entende bem o conceito de sincronicidade,
que no fundo não é complicado e tem longa história, desde a remota antiguidade
até Leibniz. Ele tinha ainda quatro
princípios para explicar a natureza: espaço, tempo, causalidade e sua harmonia praestabilita, um princípio
acausal.
Se não me engano, minha dissertação(1) foi
publicada, no meu livro Collected Papers on Analytical Psychology (2ª edição,
1920). (No momento não estou em casa).
A dificuldade principal com a
sincronicidade (e também com a PES) está em que as pessoas pensam que ela é produzida
pelo sujeito, enquanto eu penso que ela está antes na natureza de acontecimentos
objetivos. Mesmo que a PES seja um dom de certas pessoas e parece depender de
uma percepção emocional, o quadro que produz é o de um fato objetivo. Esta
verdade torna-se muito problemática no caso da precognição, onde é percebido um
fato que aparentemente não existe. Como ninguém pode perceber um fato que não
existe, temos de admitir que ele possui certa forma de existência para poder
ser percebido apesar de tudo. Para explicar isto temos de admitir que o fato
objetivo (futuro) está em paralelo com uma disposição subjetiva, isto é, psíquica,
semelhante ou idêntica, que não é explicável por nenhum efeito causal que a
precede. Mas é bem possível e, o senhor demonstrou claramente esta possibilidade,
que o paralelismo subjetivo seja percebido de tal forma como se fosse o próprio
fato futuro. Neste caso, a explicação óbvia seria a A harmonia praestabilita.
Penso que todas as formas de PES
(telepatia, precognição, etc.), inclusive a PC (psicogênese), têm como
substrato essencialmente o mesmo princípio, isto é, a identidade de uma
disposição subjetiva e objetiva coincidindo no tempo (daí o termo
"sincronicidade").
With my best wishes.
Yours sincerely, C. G. Jung.
(1)“Sobre a psicologia e a patologia dos
fenômenos chamados ocultos”, em Oc. Vol. 1.
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