Avançar para o conteúdo principal

To J. B. Priestley

To J. B. Priestley

Brook, Isle of Wight/Inglaterra, 08 de novembro de 1954.

 

Dear Mr. Priestley,

Alguns amigos me enviaram os seus dois artigos (1). Estou comovido por sua gentileza e compreensão. Como escritor, o senhor está em condições de avaliar o que significa para um indivíduo isolado como eu escutar uma voz humana amiga entre os ruídos estúpidos e maldosos que se levantam nesta selva infestada de escrivinhadores. Sou realmente grato por seu apoio cordial e sua avaliação generosa. Seu socorro chegou numa hora em que ele se fazia extremamente necessário; em breve será publicado na Inglaterra um pequeno livro meu que os editores americanos não ousaram publicar. O título é Resposta a Jó (2). Ele trata do desfecho insatisfatório do livro de Jó e das consequências históricas para o desenvolvimento de certas questões religiosas, inclusive dos pontos de vista cristãos. Em alguns círculos o livro está muito malvisto e será consequentemente mal entendido e mal interpretado. A edição alemã já enervou aqui representantes de três religiões, não porque o livro seja irreligioso, mas porque leva a sério as afirmações e pressupostos das religiões. Desnecessário é dizer que também os melhores livres-pensadores ficaram chocados. Sir Robert Read, que conhece o conteúdo, disse muito bem: “Você sabe com certeza como colocar o seu pé nisso”. Mas estou muito feliz que eles o queiram publicar. Pedirei aos meus editores que lhe mandem um exemplar tão logo seja publicado.

Faço votos que esteja bem de saúde e ativo como sempre,

Yours gratefully and sincerely, C. G. Jung

 

(1)J. B. Priestley, “Jung and the Writer”, em The Times Literary Supplement, 06.08.1954 (uma resenha de Ira Progoff, Jung’s Psychology and its Social Meaning, Londres 1953) e J. B. Priestley, “Books in General”, em The New Statesman and Nation, Londres 30 de outubro de 1954 (uma resenha de The Collected Works of. C. G. Jung, Vols., 7, 12, 16 e 17).

(2)Naquela época estava em voga o “Permanent Sub-Committee of Investigations”, do senador J. R. McCarthy, e as desconfianças sem fim da “atividade não americana”. Jung supunha que era esta a razão de seu livro Resposta a Jó não ter saído na “Bollingen Series”, mas deixado aos editores ingleses (Routledge & Kegan Paul). Nos Estados Unidos o livro foi publicado somente em 1956 sob os auspícios do “Pastoral Psychology Book Club”. Cf. cartaa a Doniger, de novembro de 1955, nota 1.

 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aniela Jaffé (Zurique)

Carta à Aniela Jaffé (Zurique) “Bollingen,  12 de abril de 1949. Prezada Aniela, (...) Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca. (...)            Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo. Saudações cordiai...

To Dr. Edward A. Bennet

  To Dr. Edward A. Bennet, (1) Londres, 21 de novembro de 1953.   My dear Bennet, Muito obrigado pelo gentil envio do livro de Jones sobre Freud. O incidente à página 348 é correto, mas as circunstâncias em que ocorreu estão desvirtuadas (2). Trata-se de uma discussão sobre Amenófis IV: o fato de ele ter raspado dos monumentos o nome de seu pai e colocado o seu próprio; segundo modelo consagrado, isto se explica como um complexo negativo de pai e, devido a ele, tudo o que Amenófis criou – sua arte, religião e poesia – nada mais foi do que resistência contra o pai. Não havia notícias de que outros faraós tivessem feito o mesmo. Mas esta maneira desfavorável de julgar Amenófis IV me irritou e eu me expressei de maneira bastante vigorosa. Esta foi a causa imediata do desmaio de Freud. Ninguém nunca me perguntou como as coisas realmente aconteceram; em vez disso faz-se apenas uma apresentação unilateral e deformada de minha relação com ele. Percebo, com grande interesse, q...

To Dr. Michael Fordham (1)

Londres, 18 de junho de 1954.   Dear Fordham, Sua carta traz más notícias; senti muito que não tenha conseguido o posto no Instituto de Psiquiatria (2), ainda que seja um pequeno consolo para o senhor que tenham escolhido ao menos um de seus discípulos, o Dr. Hobson (3). Depois de tudo, o senhor se aproxima da idade em que a gente deve familiarizar-se com a dolorosa experiência de ser superado. O tempo passa e inexoravelmente somos deixados para trás, às vezes mais e às vezes menos; e temos de reconhecer que há coisas além de nosso alcance que não deveríamos lamentar, pois esta lamentação é um remanescente de uma ambição por demais jovem. Nossa libido continuará certamente querendo agarrar as estrelas, se o destino não tornasse claro, além de qualquer dúvida razoável, que devemos procurar a perfeição dentro e não fora... infelizmente! Sabemos que há muito a melhorar no interior da pessoa, de modo que devemos agradecer à adversidade quando ela nos ajuda a reunir a energia ...