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Mensagens

Ao Dr. Med. Fritz Meerwein

Clínica Psiquiátrica Friedmatt/Basileia, junho-julho, 1955   Prezado colega! Recordando o nosso encontro e considerando sua gentil carta, permita-me uma pergunta que me aflige há mais tempo. Como psiquiatra o senhor sem dúvida conhece bem o fenômeno que pode ser parafraseado, usando-se a metáfora do Novo Testamento do cisco no olho do irmão e da trave no próprio olho. O conceito de projeção, que emprego para isso e que assumi diretamente de Freud, é muitas vezes criticado nos círculos existencialistas, sem que eu entenda o que ele tem de errado. Parece-me que ele designa corretamente o fato da ilusão e da suposição inconsciente, pois atribuo ao meu próximo o que eu possuo em grande quantidade. Eu o transfiro de certa forma para ele. Como o senhor também faz restrições ao meu conceito de projeção, eu ficaria muito grato se o senhor me esclarecesse de boa vontade este assunto. Qual é o termo que o senhor usa para isto? Ou o senhor nega simplesmente a existência desse processo? ...
Mensagens recentes

Ao Pater Lucas Menz, OSB

Abadia Ettal, Oberbayern/Alemanha, 26 de junho 1955.   Prezado Pater Lucas, Muito obrigado por sua resposta detalhada à minha carta e pelo relato de sua história de sofrimentos e alegrias. Pode-se dizer que a experiência da graça tem um preço elevado. Numa vida humana comum, os opostos nao se acham normalmente tão fendidos quanto no seu caso. Os sofrimentos e as alegrias são menores e, por isso, menos contrastantes. A luz e a sombra estão em relação complementar (Lao-Tse), assim também alegria e sofrimento. A questão da privation boni não é tão simples, pois se mal é igual a não-ser, então não existe realmente nada. Mas se eu matar alguém, então existe algo, isto é, um cadaver; ou se eu roubar de alguém 100 marcos, então eu os tenho e não ele. Pateticamente, o mal é tão real quanto o bem, pois ambos são fatos que uma pessoa chama de bem e a outra, de mal. Mal = não-ser significa que eu não fiz nada de mal, pois literalmente não fiz nada e nada está aqui, nenhum cadáver e ne...

Ao Prof. Markus Fierz

  Ao Prof. Markus Fierz, Basileia, 05 de abril de 1955.   Prezado Professor, Muito obrigado por enviar-me seu escrito sobre a doutrina do espaço absoluto, de Isaac Newton (1). É um assunto que me interessa muito, e só espero que minha força mental ainda consiga acompanhar a linha de pensar de Newton. Tenho a intenção de fazer uma visita à sua mãe (2); é admirável como suporta sua doença que não tem esperança de cura. Meus agradecimentos e cordiais saudações, C. G. Jung   (1)M. Fierz, “Über den Usprung und die Bedeutung der Lehre Isaac Newton vom absoluten Raum”, em Gesnerus II, Aarau, 1954. (2)Linda Fierz-David, autora de Der Liebestraum des Poliphilo, Zurique, 1947. Prefácio de Jung em Vol. 18.  

A Pater Lucas Menz, OSB

  A Pater Lucas Menz, OSB Abadia Ettal, Oberbayern/Alemanha, 28 de março de 1955.   Prezado Pater Lucas, Muito obrigado por sua carta amiga e esclarecedora. Ela me proporcionou uma valiosa oportunidade de aprender algo sobre o processo de tornar-se total (inteiro) e santo. No caminho retroativo da história da humanidade (1), é possível integrar muita coisa, que também pertence a nós e, mais abaixo, inclusive algo do irmão animal que é mais piedoso do que o ser humano, porque ele não pode fugir da vontade divina nele implantada, uma vez que sua consciência obscura não lhe aponta outros caminhos. Neste caminho – não importa onde tenha começado, contanto que seja trilhado com seriedade – caímos no fogo ou, como diz o ditado, chegamos à proximidade dele: “Quem está perto de mim está perto do fogo e quem está longe de mim está longe do reino” (2). A “domesticação da besta”, como diz o senhor, é na verdade um longo processo que coincide com a dissolução do egotismo. O que ...

Ao Professor Manfred Bleuler

Zurique, 23 de março de 1955.   Prezado colega, Receba meu sincero agradecimento pelo amável convite de falar sobre esquizofrenia no Congresso Internacional de Psiquiatria (1). Seria um grande prazer para mim – sem falar da grande honra – dar essa conferência. Infelizmente minha idade está avançada, e um compromisso desses se torna difícil para mim. Não suportaria mais o esforço de uma conferência e por isso devo renunciar à satisfação de seu desejo. Faço isto com o maior pesar, pois há aproximadamente 50 anos eu chamei a atenção para a psicologia dessa doença que, na época, era designada por dementia praecox (2). Às vezes pareço um anacronismo para mim mesmo. Renovo os meus sinceros agradecimentos e permaneço com elevada consideração. C. G. Jung.   (1)Prof. Manfred Bleuler havia pedido a Jung dar uma conferência sobre esquizofrenia no Segundo Congresso Internacional de Psicoterapia (1-7 de setembro de 1957, em Zurique). Com a recusa de Jung, pediu-lhe numa segu...

Para Evelyn Thorne

Lake Como (Flórida)/EUA, 23 de março de 1955.   Dear Miss Thorne, Muito obrigado por sua interessante carta (1). Posso confirmar sua observação por experiência própria. Repetidas vezes constatei o seguinte: quando estava entretido com uma ideia especial ou com um trabalho sobre um tema incomum, achava que o assunto era abordado em artigos de jornal ou em cartas que eu recebia de estranhos, como se tudo tivesse sido divulgado por rádio. Esta experiência foi às vezes tão intensa que cheguei a pensar na possibilidade de um fenômeno de sincronicidade. Mas sua observação das cores usadas por pessoas numa multidão indica tratar-se antes do fenômeno de grupamento de série casual. Pode-se observar facilmente este fato no tráfego descontínuo das estradas. Percebe-se que os carros ou os pedestres têm uma tendência de aparecer em grupos não periódicos, interrompidos por pedestres ou carros isolados. Esses fenômenos de grupamento são meros eventos casuais. Por isso temos de considerar ...

Ao Prof. Adolf Keller

Los Angeles (Calif./EUA), 25 de fevereiro de 1955.   Prezado amigo! Foi muito amável de sua parte ter gasto tempo e esforço para reagir tão extensamente ao artigo no Time (1). Sua interpretação de minha cara esquisita é excelente (2). O fotógrafo, que me importunou com inúmeras tomadas, dever ter pego um momento em que eu estava mentalmente ausente, mergulhado em meus pensamentos. Realmente, meus pensamentos sobre “este mundo” não eram e não são nada agradáveis. O panorama da pressão do inconsciente sobre o assassinato em massa e em escala global não é nada promissor. As transições dos éons parecem sempre tempos melancólicos e desesperadores como, por exemplo, o colapso do Antigo Reino do Egito (Grespräch eines Lebensmüden mit seiner Seele”) (3), entre Touro e Áries. A melancolia da era augustiana ente Áries e Peixes. Agora chegamos a Aquário, do qual dizem os livros sibilinos (4): Luciferi vires accendit Aquarius acres! (Aquário inflama as forças selvagens de Lúcifer). E e...