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Mensagens

Ao Dr. Josef Rudin

Zurique, 01 de outubro de 1954.   Prezado doutor, Receba meu caloroso agradecimento pelo amável envio de seu interessante ensaio sobre a liberdade (1). Devido ao desenvolvimento do pensamento científico, especialmente no campo da física, mas também agora na psicologia, tornou-se claro que a “liberdade” é um correlato necessário à natureza puramente estatística do conceito de causalidade. Ela cabe particularmente bem na categoria das coincidências significativas de que falo em meu ensaio sobre a sincronicidade. A liberdade poderia ser colocada em dúvida somente por causa da supervalorização unilateral da causalidade, que foi elevada a axioma, ainda que – estritamente falando – ela nada mais seja do que um modo de pensar. Com elevada consideração, C. G. Jung.   (1)J. Rudin, “Die Tiefenpsychologie und die Freiheit des Menschen”, Orientierung, nº 16, 31 de agosto de 1954, p. 169-173.
Mensagens recentes

À Cécile Ines Loos

À Cécile Ines Loos (1) Basileia, 07 de setembro de 1954.   Prezada senhora, Foi uma gentileza inesperada de sua parte ter-se lembrado de meu aniversário. Não me admiro que a princípio o tenha esquecido; o que me admira muito mais é que se tenha lembrado dele. No que se refere aos escritores da Suíça (2), não se pode esquecer nunca que a Suíça é um país muito pequeno e nunca confiou no próprio gosto, apesar de filistinismo cultural e do modismo artístico, e nunca se pode exigir idealismo dos livreiros. [...] Conforme seu desejo, estou enviando meu livro Von den Wurzelm des Bewusstseins - (A natureza da psique). O pedido do “pão de cada dia” é pertinente em todas as circunstâncias, ainda que no evangelho de Mateus 6:11, o pedido soe assim: “Panem nostrum supersubstialem da nobis hodie” (Dá-nos hoje o nosso pão supersubstancial). Foi assim que São Jerônimo traduziu a palavra grega que, aliás, só ocorre no evangelho de Mateus e que recebeu diversas interpretações, banais e ou

To Prof. J. B. Rhine

Duke University Durham (N. C.) EUA, 09 de agosto de 1954.   Dear Dr. Rhine, Obrigado por sua gentil carta. A tradução inglesa de "Synchronizität" será publicada pela Bollingen Press. O tradutor é o Mr. Hull, que está traduzindo minhas obras completas. Ele entende bem o conceito de sincronicidade, que no fundo não é complicado e tem longa história, desde a remota antiguidade até Leibniz. Ele tinha ainda   quatro princípios para explicar a natureza: espaço, tempo, causalidade e sua harmonia praestabilita , um princípio acausal. Se não me engano, minha dissertação(1) foi publicada, no meu livro Collected Papers on Analytical Psychology (2ª edição, 1920). (No momento não estou em casa). A dificuldade principal com a sincronicidade (e também com a PES) está em que as pessoas pensam que ela é produzida pelo sujeito, enquanto eu penso que ela está antes na natureza de acontecimentos objetivos. Mesmo que a PES seja um dom de certas pessoas e parece depender de uma per

A uma destinatária não identificada

Bollingen, 31 de julho de 1954.   Dear N., Durante o tumulto do congresso (1) não tive tempo de examinar seus dois sonhos. Eles possuem alguns aspectos confusos. O primeiro sonho tenta demonstrar-lhe que o símbolo de uma união sexual perfeita significa a imagem ctônica da unidade no si-mesmo. Esta tentativa se choca logo com sua divisão entre o em cima e o embaixo, e a senhora começa a pergunta-se se não deveria ter-se mantido do lado ctônico. É evidente que deve fazer isto, sem contudo, perder de vista o aspecto espiritual. Sexualidade e espírito – ambos são um e o mesmo no si-mesmo, ainda que o seu ego seja dominado por seu lado ctônico sempre um pouco fraco demais. Neste caso a senhora corre o perigo de perder-se completamente nele, apoiada num animus idiota que só pode captar um ou outros por vez. Enquanto estiver no si-mesmo, ambos os aspectos estão vivos porque são um e o mesmo, ainda que nossa consciência do eu os distinga. Finalmente, o ego deve ceder e restringir-se a

A Fernando Cassani

Caracas/Venezuela, 13 de julho de 1954.   Prezado senhor, Muito obrigado por sua amável carta. Quanto aos meus livros, posso dizer que nenhum deles apresenta uma síntese ou fundamento, ao menos na minha opinião. Não sou filósofo, que pudesse fazer algo tão ambicioso, mas um empírico que apresenta os progressos de suas experiências; por isso minha obra não tem um início absoluto nem um fim abrangente. É como a vida de uma pessoa que de repente se torna visível em algum lugar, que se baseia em pressupostos determinados mais invisíveis, e que portanto não tem um verdadeiro início nem verdadeiro fim, cessando repentinamente e deixando para trás questões que deveriam ter sido respondidas. O senhor não conhece ainda os meus últimos escritos (talvez os mais importantes). Incluo por isso uma lista deles. Quanto aos escritos de Ouspensky (1) e Gurdieff (2), sei o bastante sobre eles para não perder o meu tempo. Estou à procura de verdadeiro conhecimento e evito toda especulação não co

To Carol Jeffrey

Londres, 03 de julho de 1954.   Dear Mrs. Jeffrey, Peço desculpas pela demora em responder. Tenho pouco tempo e às vezes minhas energias são poucas. Olhei os seus quadros com apreço e admiração. Fiquei surpreso com a sua pergunta: “Para quem pintei os quadros?” Eles são seus, e a senhora os pintou como apoio de seu próprio processo de individuação. Como o Jongleur de Notre-Dame exibiu suas obras de arte em honra da Madonna (2), assim a senhora pintou para o si-mesmo. Em reconhecimento a este fato, estou devolvendo para a senhora os quadros. Eles não devem ficar aqui, e em nenhum outro lugar a não ser com a senhora, pois eles representam a aproximação dos dois mundos, do espírito e do corpo, ou do ego e do si-mesmo. Os opostos se procuram mutuamente, de modo que o outro lado vem para cá e o aqui é engolido pelo lá. (...) De qualquer forma, agradeço o fato de me haver mostrado os seus quadros. Acredito que vá ajudar-lhe contemplá-los pro tanto tempo quanto for necessário para com

Ao senhor P. F. Jenny

Ao senhor P. F. Jenny Zurique, 01, de julho de 1954.   Prezado senhor, O aparecimento em público e o consequente sucesso estrondoso de uma criança-prodígio trazem um grande perigo; por isso um aparecimento sem estardalhaço não apenas não prejudica, mas é inclusive recomendável. O desenvolvimento de tal criança costuma ser irregular; não raro, parte da personalidade permanece longo tempo subdesenvolvida, ou seja, infantil, e este lado precisa ser protegido de um dispêndio exagerado de natureza psíquica e física; caso contrário, pode sobrevir um esgotamento prematuro das fontes do prodígio. Em muitos casos acontece que as crianças bem dotadas são envolvidas no grande mundo e em seu tumulto nervoso cedo demais para sua situação, esgotando-se então bem rapidamente seus dotes. Penso que o senhor faria bem se mantivesse sua atenção voltada para este lado subdesenvolvido; o gênio cuida de si mesmo. Com elevada consideração,  C. G. Jung