Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

Para Piero Cogo

Prezado Senhor Cogo, 21 de setembro de 1955 Você não pode imaginar, com base em uma reportagem de jornal, o que quero dizer quando digo que se pode conhecer Deus sem ter que fazer o esforço, muitas vezes infrutífero, de acreditar.  Como você sabe, sou psicólogo e me preocupo principalmente com a investigação do inconsciente. A questão da religião, entre outras coisas, também se enquadra nesse tópico. Se você quiser me entender corretamente, leia minhas descobertas psicológicas. Não posso comunicá-las a você em uma carta. Sem um conhecimento profundo da psique humana, observações arrancadas de seu contexto permanecem completamente ininteligíveis.  Não se pode esperar que jornalistas se preocupem com as bases do nosso pensamento.  Do ponto de vista psicológico, a religião é um fenômeno psíquico que existe irracionalmente, como o fato da nossa fisiologia ou anatomia. Se essa função estiver ausente, o homem como indivíduo carece de equilíbrio, porque a experiência religiosa é...
Mensagens recentes

A Werner Kuhn

Reitor da Universidade de Basileia Vir Magnifice! 6 de setembro de 1955 Permita-me expressar ao senhor e à Universidade de Basileia meus mais sinceros agradecimentos pela grande honra que me concederam ao participar das festividades do meu octogésimo aniversário. Gostaria de agradecer particularmente pelo diploma que me concederam naquela ocasião. Ela me lembrou da alegria que senti quando a Universidade da minha cidade natal me concedeu a honra de me nomear professor, e, por outro lado, daquelas gotas amargas que caíram no cálice da alegria quando uma doença grave impediu a continuação da minha atividade docente em Basileia. Mas esse é o destino do pioneiro: ele próprio chega cedo demais, e o que almeja chega tarde demais. No entanto, um destino bondoso me permitiu chegar aos meus oitenta anos, carregado de reconhecimento e gratificações. Aceite, Vossa Excelência, a expressão da minha mais alta estima e profunda gratidão. Atenciosamente, C. G. Jung

Para Mary Bancroft

  Agosto de 1955 O desamparo de um homem pode ser real, o de uma mulher é uma de suas melhores façanhas. Como ela está, por nascimento e sexo, em melhores relações com a natureza, nunca está completamente desamparada enquanto não houver nenhum homem por perto. Muito obrigado por sua amável carta com suas informações! O "namorado" está entretido. O artigo na Time me fez muito bem, mais do que todos os meus livros. Eu apareci no mundo, se isso for bom para mim. Meu nome desfruta de uma existência quase independente de mim. Meu verdadeiro si-mesmo está, na verdade, cortando lenha em Bollingen e cozinhando as refeições, tentando esquecer a provação de um aniversário de oitenta anos.  Muitos bons votos, cordialmente, C. G. Jung

Ao Dr. Med. Fritz Meerwein

Clínica Psiquiátrica Friedmatt/Basileia, junho-julho, 1955   Prezado colega! Recordando o nosso encontro e considerando sua gentil carta, permita-me uma pergunta que me aflige há mais tempo. Como psiquiatra o senhor sem dúvida conhece bem o fenômeno que pode ser parafraseado, usando-se a metáfora do Novo Testamento do cisco no olho do irmão e da trave no próprio olho. O conceito de projeção, que emprego para isso e que assumi diretamente de Freud, é muitas vezes criticado nos círculos existencialistas, sem que eu entenda o que ele tem de errado. Parece-me que ele designa corretamente o fato da ilusão e da suposição inconsciente, pois atribuo ao meu próximo o que eu possuo em grande quantidade. Eu o transfiro de certa forma para ele. Como o senhor também faz restrições ao meu conceito de projeção, eu ficaria muito grato se o senhor me esclarecesse de boa vontade este assunto. Qual é o termo que o senhor usa para isto? Ou o senhor nega simplesmente a existência desse processo? ...

Ao Pater Lucas Menz, OSB

Abadia Ettal, Oberbayern/Alemanha, 26 de junho 1955.   Prezado Pater Lucas, Muito obrigado por sua resposta detalhada à minha carta e pelo relato de sua história de sofrimentos e alegrias. Pode-se dizer que a experiência da graça tem um preço elevado. Numa vida humana comum, os opostos nao se acham normalmente tão fendidos quanto no seu caso. Os sofrimentos e as alegrias são menores e, por isso, menos contrastantes. A luz e a sombra estão em relação complementar (Lao-Tse), assim também alegria e sofrimento. A questão da privation boni não é tão simples, pois se mal é igual a não-ser, então não existe realmente nada. Mas se eu matar alguém, então existe algo, isto é, um cadaver; ou se eu roubar de alguém 100 marcos, então eu os tenho e não ele. Pateticamente, o mal é tão real quanto o bem, pois ambos são fatos que uma pessoa chama de bem e a outra, de mal. Mal = não-ser significa que eu não fiz nada de mal, pois literalmente não fiz nada e nada está aqui, nenhum cadáver e ne...

Ao Prof. Markus Fierz

  Ao Prof. Markus Fierz, Basileia, 05 de abril de 1955.   Prezado Professor, Muito obrigado por enviar-me seu escrito sobre a doutrina do espaço absoluto, de Isaac Newton (1). É um assunto que me interessa muito, e só espero que minha força mental ainda consiga acompanhar a linha de pensar de Newton. Tenho a intenção de fazer uma visita à sua mãe (2); é admirável como suporta sua doença que não tem esperança de cura. Meus agradecimentos e cordiais saudações, C. G. Jung   (1)M. Fierz, “Über den Usprung und die Bedeutung der Lehre Isaac Newton vom absoluten Raum”, em Gesnerus II, Aarau, 1954. (2)Linda Fierz-David, autora de Der Liebestraum des Poliphilo, Zurique, 1947. Prefácio de Jung em Vol. 18.  

A Pater Lucas Menz, OSB

  A Pater Lucas Menz, OSB Abadia Ettal, Oberbayern/Alemanha, 28 de março de 1955.   Prezado Pater Lucas, Muito obrigado por sua carta amiga e esclarecedora. Ela me proporcionou uma valiosa oportunidade de aprender algo sobre o processo de tornar-se total (inteiro) e santo. No caminho retroativo da história da humanidade (1), é possível integrar muita coisa, que também pertence a nós e, mais abaixo, inclusive algo do irmão animal que é mais piedoso do que o ser humano, porque ele não pode fugir da vontade divina nele implantada, uma vez que sua consciência obscura não lhe aponta outros caminhos. Neste caminho – não importa onde tenha começado, contanto que seja trilhado com seriedade – caímos no fogo ou, como diz o ditado, chegamos à proximidade dele: “Quem está perto de mim está perto do fogo e quem está longe de mim está longe do reino” (2). A “domesticação da besta”, como diz o senhor, é na verdade um longo processo que coincide com a dissolução do egotismo. O que ...