Lake Como (Flórida)/EUA, 23 de março de
1955.
Dear Miss Thorne,
Muito obrigado por sua interessante carta
(1). Posso confirmar sua observação por experiência própria. Repetidas vezes
constatei o seguinte: quando estava entretido com uma ideia especial ou com um
trabalho sobre um tema incomum, achava que o assunto era abordado em artigos de
jornal ou em cartas que eu recebia de estranhos, como se tudo tivesse sido
divulgado por rádio. Esta experiência foi às vezes tão intensa que cheguei a
pensar na possibilidade de um fenômeno de sincronicidade. Mas sua observação das
cores usadas por pessoas numa multidão indica tratar-se antes do fenômeno de
grupamento de série casual. Pode-se observar facilmente este fato no tráfego
descontínuo das estradas. Percebe-se que os carros ou os pedestres têm uma
tendência de aparecer em grupos não periódicos, interrompidos por pedestres ou
carros isolados. Esses fenômenos de grupamento são meros eventos casuais. Por
isso temos de considerar a coincidência de temas em manuscritos ou artigos de
jornal primeiramente como simples acaso, ainda que com certa reserva mental. Ao
tempo de Immanuel Kant havia um bom número de filósofos com um modo de pensar
bastante parecido, e também na época de Charles Darwin havia ao menos três
outros pensadores em atividade para produzir ideias semelhantes, cada um
trabalhando por si. Em tais casos somos tentados a pensar num Zeitgeist
especial, atuando secretamente e empurrando para frente certos indivíduos
instrumentais.
Infelizmente é difícil provar esta
hipótese. Mas parece-me que os últimos fenômenos estão entre fatos meramente
fortuitos e fenômenos expressamente sincronísticos.
Seja como for, meu ensaio sobre
sincronicidade será publicado brevemente em inglês por Bollingen Press.
Agradeço-lhe mais uma vez.
Yours sincerely, C. G. Jung
(1)Miss Thorne, editora de pequenas
revistas, contou a Jung sua observação de que às vezes eram enviadas a ela e a
uma amiga sua, que também editava revistas, “shorts stories” de conteúdo e
caráter muito semelhantes. Ela e a amiga haviam interpretado isto como fenômeno
sincronístico.
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