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Gebhard Frei (Schöneck, Suíça)


17de janeiro de 1949

Prezado Professor,

Muito obrigado pelo gentil envio de seu mais recente escrito sobre magia (Magie und Psychologie). A questão do “subtle body”* é algo que também me interessa. Como é costume meu, tento abordar o problema pelo lado científico. Começo pela fórmula E = M, energia é igual a massa. Energia não é mera quantidade; é sempre quantidade de algo. Quando consideramos o processo psíquico como energético, nós lhe atribuímos massa. A massa deve ser muito pequena, caso contrário seria demonstrável fisicamente. Nos fenômenos parapsicológicos ela se torna demonstrável, e indica ao mesmo tempo que obedece a leis psíquicas, não a leis físicas, pois é em parte independente do tempo e do espaço, isto é, a energia psíquica comporta-se como se tempo e espaço tivessem apenas validade relativa. Portanto ela seria abarcável apenas através de um esquema quadri- ou multidimensional. Isto pode ser representado matematicamente, mas em detrimento da evidência. A física atômica já faz isso para os fatos quantitativamente mensuráveis. Mas a psicologia ainda não vê a possibilidade de mensurar quantitativamente os seus fatos. Na melhor das hipóteses podemos constatá-los, mas não explicá-los. Há, sem dúvida, efeitos sincrônicos com caráter “vitalizante”, isto é, fenômenos que não são apenas sincrônicos mas também que fazem supor que a energia psíquica influencia de tal forma objetos vivos ou mortos que, “animados” por um conteúdo psíquico estranho a eles, são movidos a representá-lo de alguma forma. Estes efeitos não partem da consciência, mas de uma forma inconsciente de existir que parece estar de modo duradouro num estado espaço-temporal apenas relativo, isto é, num estado quadri- ou multidimensional. Neste estado os conteúdos psíquicos atuam tanto em mim quanto fora de mim, tanto no tempo quanto sem ele.
Creio que isto pode ser concluído com bastante certeza. Obviamente, isto ainda não é nenhuma explicação, mas apenas uma tentativa de formular as conclusões que parecem seguir das premissas empíricas. De fato, a psique me parece ser, em parte, extra-espacial e extratemporal. “Subtle body” pode ser uma expressão adequada para esta parte da psique.
Com os melhores votos e agradecimento cordial, C. G. Jung”.

*(Para o pensar dos séculos passados, bem como para a mística e a alquimia, a alma não era um conceito abstrato ou intelectual, mas uma concepção sensorial: era considerada corpus sbtile ou volatile, mas substância psíquica. Jung aproxima-se dessa concepção ao caracterizar como psicóide a psique inconsciente juntamente com os arquétipos, isto é, eles possuem uma natureza que não se pode designar com certeza como psíquica. Ela é tanto quantitativa como qualitativa, tanto massa quanto energia – A dinâmica do inconsciente, § 439)

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