
A Serege Moreux
Asnières / França
20 de janeiro de 1950
Monsieur,
Agradeço muito sua
gentil carta, mas devo dizer que, infelizmente, devido à minha idade avançada e
doença, sou forçado a limitar bastante minhas atividades, não sendo possível
escrever um artigo para o seu projetado fascículo de Poluphonie.
É certo que a música,
bem como o drama, têm a ver com o inconsciente coletivo; basta pensar, por
exemplo, em Richard Wagner. De certa forma, a música expressa o movimento dos
sentimentos (ou valores emocionais) que acompanham os processo inconscientes. O
que acontece no inconsciente coletivo é por sua natureza arquetípico, e os
arquétipos têm sempre uma qualidade numinosa que se manifesta na acentuação do
emocional. A música expressa em sons o que as fantasias e visões exprimem em
imagens visuais. Não sou músico e não seria capaz de desenvolver essas ideias
em detalhe para o senhor. Só posso chamar a atenção para o fato de que a música
representa o movimento, o desenvolvimento e a transformação de motivos do
inconsciente coletivo. Isto está muito claro em Wagner e também em Beethoven;
mas apresenta-se igualmente na Arte da Fuga, de Bach. A forma musical é
expressão do caráter circular dos processos inconscientes como, por exemplo,
nos quatro movimento da sonata ou na perfeição do arranjo circular na Arte da
Fuga.
Mais do que isto não
poderia dizer-lhe sobre este tema. Somente um músico com conhecimentos
psicológicos poderia escrever sobre a psicologia do contraponto, do arranjo
circular, etc.
Veuillez agréer,
Monsieur, l’expression de ma parfaite considération. C. G. Jung.
(1) Serge
Moreux, editor da “Revue Musicale” Polyphonie, havia pedido a Jung que
escrevesse um artigo para o número especial “La musique et les problèmes de
l’Homme” sobre o tema “Le role de La musique dans l’expression de l’inconscient
collectif”.
Mais informações acerca do conteúdo e os propósitos da Revista, você encontra em:
https://www.ripm.org/?page=JournalInfo&ABB=POL
E, acerca desta edição para a qual Jung fora convidado, se afirma:
"A dupla edição VII-VIII (maio de 1950), intitulada "A música e os problemas do lar" [Música e os problemas do homem], considera não apenas os vínculos psicológicos e subconscientes entre seres humanos e música, mas também a importância da música nas atividades humanas e papel da música na medicina. Uma investigação do National Industrial Conference Board mostra trabalhadores favoráveis à música no trabalho e enfatiza seus aspectos benéficos. Uma extensa bibliografia sobre o assunto geral está incluída."
Foto: Capa da Revista Polyphonie, de 1950.
Mais informações acerca do conteúdo e os propósitos da Revista, você encontra em:
https://www.ripm.org/?page=JournalInfo&ABB=POL
E, acerca desta edição para a qual Jung fora convidado, se afirma:
"A dupla edição VII-VIII (maio de 1950), intitulada "A música e os problemas do lar" [Música e os problemas do homem], considera não apenas os vínculos psicológicos e subconscientes entre seres humanos e música, mas também a importância da música nas atividades humanas e papel da música na medicina. Uma investigação do National Industrial Conference Board mostra trabalhadores favoráveis à música no trabalho e enfatiza seus aspectos benéficos. Uma extensa bibliografia sobre o assunto geral está incluída."
Foto: Capa da Revista Polyphonie, de 1950.
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