Ao Dr. Hans E. Tüsch
(1)
Zurique, 23 de fevereiro de
1950.
Prezado Doutor,
Quanto à sua pergunta,
gostaria de dizer-lhe que só tenho aquelas informações que apareceram nos
jornais. Delas só posso tirar conclusões especulativas, mas nada de concreto e
real.
É bem possível que, por
meio da tortura físico-moral, da insônia e de envenenamento sistemático com
derivados de ópio ou outra substância prejudicial semelhante, uma pessoa se
torne tão desmoralizada e sugestionável que, para evitar outros tormentos, faça
simplesmente a vontade da outra pessoa. Pelo simples fato de mostrar a alguém
as torturas físicas que poderá sofrer, a maioria já desmorona de antemão e
confessa o que o outro deseja. Uma vez que não se empregou mais a tortura na
administração da justiça nesses últimos 150 anos, não estamos a par das sequelas
psíquicas da tortura. Só nos campos de concentração pudemos observar os efeitos
devastadores que a tortura psíquica teve sobre a moral do indivíduo. Não acho
que seja necessário pensar num meio especial, quimicamente específico, para
explicar as afirmações espantosas dos acusados.
Prefiro não escrever
artigo sobre isto, pois, como o senhor percebe, não tenho informações suficientes
a respeito.
Com elevada consideração,
C. G. Jung.
(1) Dr. Tütsch, correspondente estrangeiro do Neuen Zücher Zeitung (jornal fundado
em 1780), escreveu em sua carta a Jung (21/02/1950) sobre as confissões surpreendentes
e pouco convincentes que fizeram o Cardeal Mindszenty, Rajk e outros no grande
processo teatral (1950) em Budapest; o mesmo aconteceu com o inglês Edgar
Sanders e o americano Roberto A. Vogeler. O Dr. Tüsch pediu um artigo de Jung
sobre as causas das mudanças psíquicas e psicopatológicas dos acusados.
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