Avançar para o conteúdo principal

Dr. Hans E. Tüsch

The "Neue Zürcher Zeitung" is one of the best Swiss newspaper for "politics, science and Art, three issue a day. A great classic Swiss poster by Otto Baumberger/ 1928, the Swiss Master of poster. This extremely rare poster has his place in museum collection and is priced by avant-garde collector

Ao Dr. Hans E. Tüsch (1)

Zurique, 23 de fevereiro de 1950.

Prezado Doutor,

Quanto à sua pergunta, gostaria de dizer-lhe que só tenho aquelas informações que apareceram nos jornais. Delas só posso tirar conclusões especulativas, mas nada de concreto e real.
É bem possível que, por meio da tortura físico-moral, da insônia e de envenenamento sistemático com derivados de ópio ou outra substância prejudicial semelhante, uma pessoa se torne tão desmoralizada e sugestionável que, para evitar outros tormentos, faça simplesmente a vontade da outra pessoa. Pelo simples fato de mostrar a alguém as torturas físicas que poderá sofrer, a maioria já desmorona de antemão e confessa o que o outro deseja. Uma vez que não se empregou mais a tortura na administração da justiça nesses últimos 150 anos, não estamos a par das sequelas psíquicas da tortura. Só nos campos de concentração pudemos observar os efeitos devastadores que a tortura psíquica teve sobre a moral do indivíduo. Não acho que seja necessário pensar num meio especial, quimicamente específico, para explicar as afirmações espantosas dos acusados.
Prefiro não escrever artigo sobre isto, pois, como o senhor percebe, não tenho informações suficientes a respeito.
Com elevada consideração, C. G. Jung.

(1) Dr. Tütsch, correspondente estrangeiro do Neuen Zücher Zeitung (jornal fundado em 1780), escreveu em sua carta a Jung (21/02/1950) sobre as confissões surpreendentes e pouco convincentes que fizeram o Cardeal Mindszenty, Rajk e outros no grande processo teatral (1950) em Budapest; o mesmo aconteceu com o inglês Edgar Sanders e o americano Roberto A. Vogeler. O Dr. Tüsch pediu um artigo de Jung sobre as causas das mudanças psíquicas e psicopatológicas dos acusados.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Aniela Jaffé (Zurique)

Carta à Aniela Jaffé (Zurique) “Bollingen,  12 de abril de 1949. Prezada Aniela, (...) Sua carta chegou num período de reflexões difíceis. Infelizmente nada lhe posso falar a respeito. Seria demais. Também eu ainda não cheguei ao final do caminho do sofrimento. Trata-se de compreensões difíceis e penosas (1). Após longo vagar no escuro, surgiram luzes mais claras, mas não sei o que significam. Seja como for, sei por que e para que preciso da solidão de Bollingen. É mais necessária do que nunca. (...)            Eu a parabenizo pela conclusão de “Séraphita” (2). Ainda que não tivesse aproveitado em nada a Balzac desviar-se do si-mesmo, gostaríamos de poder fazê-lo também. Sei que haveríamos que pagar mais caro por isso. Gostaríamos de ter um Javé Sabaoth como kurioz twn daimonwn (3). Compreendo sempre mais porque quase morri e vejo-me forçado a desejar que assim tivesse sido. O cálice é amargo. Saudações cordiai...

Ao Dr. Hans A. Illing

Los Angeles (Calif. EUA), 26 de janeiro de 1955.   Prezado Doutor, Enquanto médico, considero a perturbação psíquica (neurose ou psicose) uma doença individual; e assim deve ser tratada a pessoa. No grupo o indivíduo só é atingido na medida em que é membro do mesmo (1). Em princípio isto é um grande alívio, pois no grupo a pessoa é preservada e está afastada de certa forma. No grupo o sentimento de segurança é maior e o sentimento de responsabilidade é menor. Certa vez entrei com uma companhia de soldados numa terrível geleira coberta de névoa espessa. A situação foi tão perigosa que todos tiveram que ficar no lugar onde estavam. Não houve pânico, mas um espírito de festa popular! Se alguém estivesse sozinho ou apenais em dois, a dificuldade da situação não teria sido levada na brincadeira. Os corajosos e experientes tiveram oportunidade de brilhar. Os medrosos puderam valer-se da intrepidez dos mais afoitos e ninguém pensou alto na possibilidade de um bivaque improvisado na ...

To Dr. Michael Fordham (1)

Londres, 18 de junho de 1954.   Dear Fordham, Sua carta traz más notícias; senti muito que não tenha conseguido o posto no Instituto de Psiquiatria (2), ainda que seja um pequeno consolo para o senhor que tenham escolhido ao menos um de seus discípulos, o Dr. Hobson (3). Depois de tudo, o senhor se aproxima da idade em que a gente deve familiarizar-se com a dolorosa experiência de ser superado. O tempo passa e inexoravelmente somos deixados para trás, às vezes mais e às vezes menos; e temos de reconhecer que há coisas além de nosso alcance que não deveríamos lamentar, pois esta lamentação é um remanescente de uma ambição por demais jovem. Nossa libido continuará certamente querendo agarrar as estrelas, se o destino não tornasse claro, além de qualquer dúvida razoável, que devemos procurar a perfeição dentro e não fora... infelizmente! Sabemos que há muito a melhorar no interior da pessoa, de modo que devemos agradecer à adversidade quando ela nos ajuda a reunir a energia ...