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À Sra. Sibyle Birkhäuser-Oeri


Sibylle Birkhäuser-Oeri - Peter and Sibylle Birkhäuser-Oeri Foundation
À Sra. Sibyle Birkhäuser-Oeri (1)

Binningen na Basileia

13 de julho de 1950.

Prezada Sra. Birkhäuser,
Infelizmente costuma acontecer (quando se é tão velho como eu) que o esprit d’escalier começa a desempenhar o seu papel indesejado. O seu caso continuou me atormentando, até que descobri o que foi que eu não lhe havia dito: deixar entrar o inconsciente é apenas a metade da tarefa. A segunda metade, que não mencionei, consiste em entender-se com o inconsciente. A fantasia que me entregou para ler nada mostra desse “entendimento”. Não sei se minha conclusão de que a senhora desconhece esta tarefa importante está certa. Exemplo disso pode encontrar em meu livro O eu e o inconsciente: é o caso de um jovem que deixa sua noiva cair numa fenda do gelo e se afogar (2). A gente tem que entrar pessoalmente na fantasia e obrigar a figura a falar e responder. Só assim o inconsciente é integrado na consciência, isto é, através de um processo dialético, através de um diálogo da senhora com as figuras inconscientes. O que acontece na fantasia deve acontecer com a senhora, que não deve deixar-se que seja modificado pelo inconsciente, assim como este deve ser reconhecido como justificado e só ser impedido de suprimir e assimilar o eu. Aqui a senhora deveria ter a ajuda de uma mulher. O homem desperta sempre demais o inconsciente. Eu lhe recomendo a minha esposa ou a senhora T. Wolff, Freistr. 15³.
Desse modo tranquilizei a minha consciência.
Saudações cordiais, C. G. Jung.

(1) Quarta filha do amigo de Jung, Dr. Albert Oeri, 1914-1971, psicologia analítica.
(2) O eu e o inconsciente – Vol. 7, § 343 s.
(3) Toni Wolff era colaboradora de Jung.
O que Jung chama nesta carta de “fantasia” refere-se ao método da imaginação ativa.

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