Ascona, 12 de julho de
1951.
Prezado Professor!
A rápida publicação e a
bela apresentação de Einfühurung in die Mythologie (1) me supreenderam. É gratificante
saber que este livro está agora bem preservado.
As experiências que
está fazendo atualmente (2) ocorrem inevitavelmente a quem se ocupa conscientemente
com o mundo primitivo das imagens eternas. Ele se estende para além de si
mesmo. Nele se confirma a opinião do velho alquimista: “maior autem animae pars
extra corpus est...” (3).
O senhor tem razão: em
relação a seu pano de fundo arquetípico, as imagens banais de sonhos são mais
instrutivas e de maior força probatória do que sonhos “mitologizados”, que são suspeitos
de provirem de leituras. O caso que o senhor conta é muito interessante.
Trata-se de um efeito consequente do modelo arquetípico. Estou muito
interessado em ouvir os detalhes de suas experiências. Posso imaginar que para
um mitólogo a colisão com arquétipos vivos seja uma experiência muito especial.
Comigo aconteceu o mesmo; só que para mim era o reencontro com a mitologia. Isto
significa uma intensificação e elevação da vida “um olhar meditativo de soslaio
para o gênio “vultu mutabilis, albus et ater” (4).
O fato de estarem se
alargando os círculos de sua vida e de sua atividade (5) é extremamente
gratificante e ensejo de cordiais parabéns!
Com os meus melhores
votos de sucesso, C. G. Jung.
(1) Jung-Kerényi, Einführung in das Wesen
der Mythologie, Zurique, 1951.
(2) Kerényi
meciona numa carta de 10 de julho de 1951 – só bem rapidamente – suas experiências
no trabalho com analisandos. Alguns estudantes do Instituto C. G. Jung reagiram
às suas preleções sobre mitologia grega com sonhos correspondentes de caráter
arquetípico.
(3) “A
maior parte da alma encontra-se, porém, fora do corpo”. Ver Psicologia e
alquimia, Vol. XII, § 396.
(4) “De
aspecto mutável, ora branco, ora preto”. Horácio, Epistulae, II, 2. Ver
Resposta a Jó, Vol. XI, § 742.
(5) Kerényi
falou de uma futura viagem à Grécia e de convites que recebeu de universidades
suecas.
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