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À Aniela Jaffé

Zurique. Bollingen, 08 de setembro de 1951.

 

Prezada Aniela!

Aqui vai um sinal de vida! Depois de Eranos estive muito cansado. Agora estou um pouco recuperado; e novamente fui tomado por uma ideia, dessa vez referente à sincronicidade. Preciso reelaborar o capítulo sobre a astrologia. Terei que fazer uma mudança significativa; foi Knoll (1) que me deu a pista. A astrologia não é um método mântico, mas parece basear-se em radiações de prótons (do Sol) (2). Preciso fazer ainda uma experiência estatística para estar seguro. Isto me consome, mas não a ponto de esquecer-me da senhora. Como vai? Espero que esteja melhor. Mande-me notícias suas, por favor. Depois de Eranos perdi a troca diária de ideias e o calor vital envolvente.

Infelizmente tenho de finalizar. Meu filho chegou há pouco de barco.

Por enquanto, cordiais saudações de seu C. G.

 

(1) Dr. Max Knoll (1897-1970), engenheiro, desde 1948 professor de eletrotécnica na Universidade de Princeton e desde 1956 diretor do Instituto de Eletrônica em Munique. No encontro Eranos de 1951, deu uma conferência sobre “Wandlungen der Wissenschaft in unserer Zeit”.

 Na edição reformulada da conferência Eranos de Jung (1951) “Sobre sincronicidade”, lê-se: “Como o professor Knoll demonstrou neste encontro, a irradiação dos prótons solares é de tal modo influenciada pelas conjunções, oposições e aspectos quadráticos que se pode prever o aparecimento de tempestades magnéticas com grande margem de probabilidade. É possível estabelecer entre a curva das perturbações magnéticas da terra e a taxa da mortalidade relações que fortalecem a influência desfavorável de conjunção, oposição e quadradado e a influência favorável dos aspectos trigoniais e sextis. Assim é provável que se trate aqui de uma relação causal, isto é, de um lei natural, que exclui ou limita a sincronicidade”. Confira: Vol. 8, § 977 e 872, OC. Jung modificou mais tarde esta opinião.

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