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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2022

Ao senhor A. Galliker (Redator do Jungkaufmann)

Zurique, 29 de janeiro de 1952.   Prezado senhor, Muito obrigado por sua remessa. Não acredito que o senhor esteja vendo a situação tão preta assim. Está certo ao dizer que o mundo de hoje prefere as inovações em massa e que por isso esquecer o vínculo com o passado, característico de toda cultura. Não se deve recriminar os jovens por causa disso, pois é perfeitamente compreensível que eles tenham os olhos abertos para o novo e o impressionante das assim chamadas conquistas culturais. Mas é preciso considerar também que o verdadeiro tesouro da cultura, nomeadamente a herança do passado, é apresentado muitas vezes de modo tão enfadonho e desinteressante que já é um milagre quando alguém se interessa por ele. Para quem a tradição cultural é apenas conhecimento e simples instrução também não poderá apresentar o assim dito passado como presente vivo. Enquanto médico, eu mesmo experimentei como devíamos afastar como traste velho todas as exposições anteriores da história das religiõ

Para Donald Rajapakse

Mont Lavinia, Ceilão   22 de janeiro de 1952.   Dear Mr. Rajapakse, Como vê, apresso-me em socorrê-lo (1) e espero que não tenha entrado demais na esparrela e se tornado particularmente odioso a seu vice-chanceler. O senhor saber que uma das qualidades infelizes dos introvertidos é não deixar de colocar o pé errado na frente. Contudo, devo dizer que é uma atitude bastante ousada arriscar uma disputa com o vice-chanceler de sua Universidade. É evidente que este senhor não está bem informado da situação. Provavelmente nunca leu meu livro Tipos psicológicos , caso contrário não teria cometido o erro de supor que este livro se baseia numa “premissa”. Sou psiquiatra e tenho uma experiência de mais de 50 anos com grande número de pacientes e pessoas em geral; e devo constatar – justamente com outros pioneiros no campo da psicologia – que há uma diferença bem característica entre a atitude e o ponto de vista das pessoas. O fórum de ciências aceitou praticamente em todo mundo não só

Ao Dr. Erich Neumann

Tel Aviv/Israel   Bollingen, 05 de janeiro de 1952.   Meu prezado Neumann, Agradeço muito sua carta e a maneira como me entende. Isto compensa milhares de mal-entendidos. O senhor coloca o dedo no ponto certo, um ponto doloroso para mim: eu já não consigo levar em consideração o leitor médio; é ele que tem de me levar em consideração. Tive de pagar este tributo ao fato impiedoso de minha idade. Na serena previsão da mais ampla incompreensão não consegui impor nenhum convencimento e nenhuma captatio benevolentiae , e mesmo o funil de Nürnberg escapou-se das mãos. Não com minha farda, mas “nu e sem nada devo descer à sepultura”, com plena consciência do escândalo que provocará a minha nudez. Mas o que significa isto em comparação à arrogância que tive de reunir para poder ofender o próprio Deus? Isto me deu maior dor de barriga do que se tivesse todo o mundo contra mim. Este último fato já não é novidade para mim. Expressei meu luto e pesar na epígrafe: “Doleo super te frate

Para Alice Lewisohn Crowley

    Bollingen, 30 de dezembro de 1951.   Dear Alice, Muito obrigado por sua coletânea suculenta de delícias culinárias! Cheguei apenas ontem e ainda estou um pouco cansado dos festejos natalinos. Estou praticando a nobre arte de dormir. Depois de algum tempo tentarei aventurar-me ao terceiro estágio da coniunctio (1), mas por enquanto estou carregando o tormento de escrever cartas. Somente através da submissão a deveres detestáveis ganha-se algum sentimento de libertação que induz a uma disposição criativa. A longo prazo, ninguém pode roubar a criação. (...) Fico satisfeito que gostou de nossa reunião do clube. Ela realizou-se exatamente no dia mais curto. Agora a luz já aumenta de novo. Eu a saudei com a saudação antiga: caire numfie neon fwz (Bem-vindo, noivo nova luz) (2). Há grande agitação na Igreja católica e muita discussão sobre o novo dogma (3). Estou lendo alguma coisa sobre isso. O Papa os prendeu em suas próprias redes, pois estimularam crenças que não ti