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Ao Dr. James Kirsch

 

Ao Dr. James Kirsch

Los Angeles (Calif.)/EUA, 29 de janeiro de 1953.

 

Meu prezado Kirsch!

Gostaria de agradecer-lhe bem pessoalmente a grande honra com a qual me distinguiu e a grande alegria que isto me proporcionou (1). Espero e desejo tudo de bom para o futuro de sua associação. Se eu tivesse um título doctor honoris causa a conferir, colocaria em sua cabeça o chapéu acadêmico mais do que merecido, como reconhecimento de sua atividade verdadeiramente notável e meritória em favor de “minha” psicologia, ainda que eu não reivindique qualquer direito de propriedade. Ela representa um movimento do espírito que tomou conta de mim e ao qual pude e tive de servir durante a vida toda. É isso que ilumina o crepúsculo de minha vida e me enche de juvenil serenidade: ter recebido a graça de colocar o melhor de mim a serviço de uma grande causa.

O que o senhor escreve sobre o efeito que Jó exerceu nos analistas concorda plenamente com a minha experiência: o número de indivíduos capazes de reação é relativamente pequeno, e os analistas não constituem exceção. Está prestes a sair uma nova edição de Jó; incluí nela as correções que o senhor sugeriu (2). Mandar-lhe-ei, então, um exemplar.

Estou me recuperando devagar, mas agora as coisas vão indo bem melhor. Terminei hoje um trabalho mais longo sobre a “árvore filosófica” que me acompanhou durante a minha doença (3). Descobri algumas coisas interessantes. Foi uma verdadeira distração, como substituto ao fato de que poucos de meus contemporâneos podem entender o que se pretende com a psicologia do inconsciente. O senhor deve ter visto as recensões de Jó na imprensa. O que apareceu de ingênua estupidez é difícil imaginar!

Queira aceitar mais uma vez os meus agradecimentos e saudações cordiais, C. G. Jung.

 

(1)Jung havia sido nomeado membro honorário do recém-criado “Analytical Psuchology Club of Los Angeles”;

(2)Para os participantes de seu seminário em Los Angeles, Dr. Kirsch aprontou uma tradução inglesa de Resposta a Jó (1952/53) que colocou à disposição do tradutor das obras de Jung, Richard F. C. Hull. Cf. “Translator’s Note”, in Coll. Works II, p. VII.

(3) “A árvore filosófica”, OC, vol. 13.

 

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