A uma destinatária
não identificada
Suíça, Bollingen,
03 de agosto de 1953.
Prezada M.,
Agradeço de coração
os seus votos de feliz aniversário. Infelizmente não consigo lembrar-me, aqui
em Bollingen, do que a senhora me enviou como presente. Foi tão grande a
avalanche de cartas, flores e presentes que me inundaram de modo que não me
lembro mais de nada, a não ser de sua carta com a questão central sobre a oração.
Isto foi e é um problema para mim. Alguns anos atrás, achava eu que todas as reinvindicações
que iam além do que é, eram injustiçadas e infantis, de modo que não se deveria
pedir nada que não fosse garantido. Não podemos lembrar a Deus de nada, nem prescrever-lhe
coisa alguma, a não ser que ele nos queira impor algo que a limitação humana não
pode suportar. Deve-se perguntar naturalmente se isso acontece. Acredito que a
resposta é sim, pois se Deus precisa de nós como reguladores de sua encarnação e
de sua conscientização, é porque em sua ilimitação ultrapassa todas as limitações
necessárias para a aquisição da consciência. Ficar consciente é uma renúncia
constante, pois é uma concentração progressiva.
Se isto for
correto, então pode acontecer que Deus precise ser “lembrado”. O Si-mesmo mais profundo
de toda pessoa e animal, das plantas e dos cristais é Deus, mas infinitamente
diminuto e adaptação à sua definitiva forma individual. Numa aproximação das
pessoas ele é por isso também “pessoal” como um deus antigo, por isso
semelhante à pessoa humana (como Javé em Ezequiel).
Um antigo
alquimista formulou assim o relacionamento com Deus: “Ajuda-me, para que eu te
ajude” (1).
Saudações cordiais,
C. G.
(1) Citação parecida
encontra-se no Rosarium Philosophorum, Frankfurt no Meno 1150, p. 239. Aqui é o
lapis que diz as palavras: “Protege-me,
protegam te” (Protege-me, para que eu te proteja) – Psicologia e alquimia. Vol.
12, § 155.
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