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To John D. Barret

To John D. Barret (1)

Bollingen Foundation Inc.

Nova Iorque, 11 de fevereiro de 1954.

 

Dear Barret,

Muito obrigado pelo envio do relatório de meus direitos autorais. Há pouco tempo encontrei Kurt Wolff (2) e sua esposa. Conversamos sobre muitas coisas, mas não precisamente sobre coisas que eu mencionaria nesta carta.

A partir de um número de reações, independentes entre si, da América sobre o objetivo geral e atividade da Bollingen Foundation, concluí que a Fundação deve ser uma exceção singular nos Estados Unidos. Minha impressão é que se trata de uma pequena ilha num mar infinito de incompreensão e superficialidade. Não consegui entender ainda o que significa para o nível educacional a ausência quase completa das ciências humanas em geral. Tanto mais valorizo hoje o gênio de Mrs. Mellon que planejou a Bollingen Foundation, com a generosa contribuição de Paul Mellon.

Gostaria apenas de dizer-lhe que não é fácil para um europeu julgar corretamente uma situação mental que ele não conhece em seu próprio país. Quando ouço das dificuldades de meus alunos em sua atividade docente nos Estados Unidos, fico muito impressionado com os efeitos de uma educação unilateral no que se refere às ciências naturais; por isso mesmo valorizo tanto a importância cultural de sua Fundação. É um farol luminoso na escuridão da era atômica.

Ouvi dizer que meus livros seguem bom caminho, e estou surpreso com a rapidez com que saem do prelo. Agradeço pessoalmente todo o trabalho que teve em colocar as coisas nos eixos e toda a paciência que teve com a minha impaciência (3).

Espero que tenha iniciado este novo ano com uma perspectiva otimista.

Yours cordially, C. G. Jung

 

(1)John D. Barret, presidente da Bollingen Foundation, Nova Iorque, até 1969; desde 1946, editor da Bollingen Series. Estimulou a publicação inglesa das obras completas de Jung na Bollingen Series e promoveu a publicação das cartas de Jung. Cf. carta a Mellon, 19.06.1940, nota 1.

(2)Cf. carta a Kurt Wolff, de 01.01.1958, nota 1.

(3)Cf. carta a Rhine, de 18.02.1953, nota 3.

 

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