Zurique, 25 de outubro de 1955.
Prezado colega!
Agora que a enxurrada de cartas por volta
do meu octogésimo aniversário diminuiu um pouco, posso finalmente agradecer-lhe
pelo seu cartão de Cós e pela sua tão apreciada carta de 4 de agosto. Sua carta
de Cós me comoveu profundamente, pois seu falecido irmão, que me acompanhou
quando sofri um infarto em 1944, tinha uma ligação misteriosa com Cós. Em meu
delírio, a imagem de seu irmão me apareceu, emoldurada pela coroa de ouro de
Hipócrates, e anunciou – naquele momento eu estava a 1.500 km longe da terra e
estava prestes a entrar em um templo de pedra escavado em um meteorito - que eu
não tinha permissão para ir mais longe da terra, mas tive que retornar a ela.
(1)
A partir do momento dessa visão, temi pela
vida de seu irmão, pois o vi em sua forma primordial como Príncipe de Cós, o
que significava sua morte. Descobri somente depois que os grandes médicos de Có.s
se intitulavam basileiz (basileis - reis). Em 4 de abril de
1944, fui autorizado a sentar-me na beira da cama pela primeira vez, e naquele
dia seu irmão foi para a cama, para nunca mais se levantar.
Com sinceros agradecimentos e votos de
rápida recuperação de sua operação,
Atenciosamente, C. G. Jung.
(1) Memórias. Sonhos.
Reflexões. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p. 255.
Cós é uma ilha grega no Dodecaneso. Foi o local de nascimento de Hipócrates, o pai da medicina (nascido por volta de 460 a.C.). Também era famoso por um importante santuário de Asclépio, o deus da cura, e pela primeira escola de medicina científica.
Comentários
Enviar um comentário