Zollikon – Zurique, 14 de dezembro de 1955.
Prezado Professor Bohler,
Muitíssimo obrigado por suas gentis cartas. A perda da minha
esposa me deixou muito abalado, e na minha idade é difícil me recuperar.
Sua sugestão de que eu descreva o que se faz com arquétipos é
muito interessante. Em primeiro lugar, são eles que agem conosco e só depois
aprendemos o que podemos fazer com eles.
Solicitei ao Dr. C. A. Meier que lhe emprestasse meu
Seminário de 1925, onde descrevo minhas primeiras experiências neste campo.
Espero que, nesse meio tempo, este relatório do Seminário tenha chegado em
segurança e lhe forneça as informações que deseja.
É de importância mínima o que o indivíduo faz com arquétipos.
Infinitamente mais importante é o que a história da humanidade tem a nos dizer
sobre eles. Aqui abrimos o tesouro da religião comparada e da mitologia. É dos
fragmentos gnósticos em particularmente e da tradição gnóstica da “filosofia”
alquímica que derivamos a maior parte da instrução. Trabalhei neste campo com o
máximo de minha capacidade e, creio, ele rendeu todo tipo de fruto dos quais
podemos obter uma visão mais abrangente do que das reações e trabalhos de
indivíduos modernos, embora sejam precisamente suas experiências que motivaram
nossas pesquisas históricas. Na prática, é claro, o problema reside no
indivíduo moderno, que sozinho pode dar a resposta moderna. (A lux moderna
é um termo alquímico. A resposta, como
sempre, depende dos conceitos contemporâneos, isto é, é psicologicamente
científica no que diz respeito à teoria. Na prática, trata-se da imemorial
religio, isto é, da consideração cuidadosa do numina. (Religio
vem de religere e não do patrístico religare.) Desta forma, os
dados inconscientes são integrados à vida consciente (como a “função transcendente”).
Informações sobre o processo empírico podem ser encontradas em “As Relações
entre o Ego e o Inconsciente”, na série sobre sonhos em Psicologia e
Alquimia, e em “Um Estudo sobre o Processo de Individuação”.
Ficarei feliz em vê-lo novamente em breve. Por favor,
informe-me qual horário lhe convém.
Com os melhores cumprimentos,
Atenciosamente, C. G. Jung
1 Dr. Eugen Bhöler, professor de economia na Escola
Politécnica Federal Suíça (E.T.H.), Zurique. Em julho de 1955, ele foi um dos
palestrantes em uma celebração quando Jung recebeu um título honorário em
ciências naturais na Politécnica. (Cf. Hug, Meier, Bohler, Schmid, Carl Gustav
Jung, Kultur- und Staatswissenschaftliche Schriften, nº 91, 1955.) O crescente
interesse de Böhler pela psicologia da economia levou a relações pessoais
amistosas entre os dois homens. Cf. seu “Consciência na Vida Econômica”, em
Consciência (Estudos sobre o Pensamento Junguiano, 1970; orig. 1958), e “Die
Grundgedanken der Psychologie von C. G. Jung”, Industrielle Organisation (Zurique),
nº 4, 1960.
2 Böhler sugeriu que Jung escrevesse “uma obra definitiva
sobre sua relação pessoal com arquétipos" para ajudá-lo a superar o efeito
paralisante da morte de sua esposa.
3 Notas sobre o Seminário de Psicologia Analítica . . . 23 de
março a 6 de julho de 1925, multigrafado para circulação privada. Nele, Jung dá
um relato muito pessoal da origem e desenvolvimento de seus principais
conceitos. Parte deste material está incorporado em Memórias, cap. VI: “Confronto
com o Inconsciente”.
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