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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Gebhard Frei (Schöneck, Suíça)

17de janeiro de 1949 Prezado Professor, Muito obrigado pelo gentil envio de seu mais recente escrito sobre magia (Magie und Psychologie). A questão do “subtle body”* é algo que também me interessa. Como é costume meu, tento abordar o problema pelo lado científico. Começo pela fórmula E = M, energia é igual a massa. Energia não é mera quantidade; é sempre quantidade de algo. Quando consideramos o processo psíquico como energético, nós lhe atribuímos massa. A massa deve ser muito pequena, caso contrário seria demonstrável fisicamente. Nos fenômenos parapsicológicos ela se torna demonstrável, e indica ao mesmo tempo que obedece a leis psíquicas, não a leis físicas, pois é em parte independente do tempo e do espaço, isto é, a energia psíquica comporta-se como se tempo e espaço tivessem apenas validade relativa. Portanto ela seria abarcável apenas através de um esquema quadri- ou multidimensional. Isto pode ser representado matematicamente, mas em detrimento da evidência. A físi

Jürg Fierz, (Zurique, Suíça)

Bollingen,  13 de janeiro de 1949. "Prezado doutor, Antes de mais nada, o senhor deve considerar que não costumo interferir nos trabalhos de meus alunos. Não tenho o direito nem o poder de fazê-lo. Eles podem tirar as conclusões que lhe pareçam corretas e devem assumir toda a responsabilidade por elas. Já são muitos os alunos meus que fabricaram todo tipo de bobagem a partir do que outrora aprenderam. Eu não disse em lugar nenhum que apoiava "irrestritamente" Neumann (Dr. Jürg Fierz havia escrito a Jung sobre o livro de Erich Neumann - Psicologia Profunda e Nova Ética, muito discutido na época). Sobre isso não há o que falar. Eu naturalmente faço as minhas restrições. Se o senhor quiser entender Neumann corretamente, deve considerar que ele escreve no vácuo espiritual de Tel Aviv. De lá nada mais pode provir do que um monólogo. Ele escreve como ele supõe. Não há dúvida de que isto é provocativo, mas eu já percebi que os livros provocativos não são os piores.

Markus Fierz (1912-2006), (Basileia, Suíça)

12 de janeiro de 1949 "Ao Prof. Markus Fierz, prezado colega! Posso propor-lhe uma questão de matemática? Durante minha doença de 1944 tive, após minha embolia cardíaca, um intervalo de inconsciência (?) ou de amnésia (?), e não consigo lembrar-me de qualquer percepção externa. Mas guardei desse período uma visão impressionante em que vi, entre outras coisas, a terra a partir de uma grande distância. Interessa-me sabe o quanto era essa distância. Algumas indicações: todo o meu campo visual estava preenchido por um segmento da esfera terrestre.  Em cima à esquerda eu via a margem noroeste da terra. Embaixo à direita, nas proximidades da margem de meu campo visual, estava Ceilão, e então à esquerda para cima estava a Índia toda. Mais para a esquerda e indistintamente estavam a Pérsia, a Arábia, o Mar Vermelho e, bem em cima à esquerda, o Mediterrâneo e a costa nordeste da África. A questão é esta: a que distância estava eu da terra para poder abranger em meu cam

Padre Victor White (Oxford)

Bollingen,  08 de janeiro de 1949 "Dear Victor, Muito obrigado por sua carta amável e humana! Pelo menos sei agora onde o senhor está. Temia que a América o tivesse arrebatado em espírito. É bem do meu jeito ter esquecido sua carta muito útil e compreensiva sobre a anima Christi, isto é, esqueci de agradecer-lhe! Fico realmente muito agradecido por haver respondido de modo tão completo a minha pergunta. Tais sentimentos ou certa espécie deles desaparecem de repente do campo visual, sobretudo naquele momento em que deveria reconhecê-los. É este o modo como se comporta a função inferior. Suas observações enigmáticas sobre "efeitos sincrônicos" em 16 de dezembro despertaram a minha curiosidade, uma vez que me sinto totalmente inocente quanto a motivos dissimulados em minha carta. Este sentimento de inocência pode provar o contrário. Lamento que o senhor não possa dizer mais sobre o assunto. De minha parte, foi uma compulsão interna que me levou a escrever. Senti

Alwine von Keller (Ascona)

02 de janeiro de 1949 "Prezada e distinta senhora, estou em Bollingen, e sua carta chegou num momento propício, de modo que posso respondê-la já. Não é de admirar que estejamos dispostos a um olhar retrospectivo no final do ano, ainda mais quando estamos bem longe dos anos da juventude. Também eu estou numa fase retrospectiva e me ocupando intensamente comigo mesmo - a primeira vez em 25 anos - coletando e organizando os meus velhos sonhos. Há muita coisa estranha entre eles. Estou impressionado com o fato de que sabemos muito pouco sobre o "inconsciente" (abençoado seja este termo sem preconceitos!). [...] Meu estado de saúde, com meus altos e baixos, tem muito a ver com o fato de eu ainda não saber bem o que se pode ou não pode fazer aos quase 74 anos de idade. A minha última doença foi sobrecarga de trabalho. Todo dia tenho de dizer a mim mesmo várias vezes: "não demais! Passo de lesma, seguido de períodos de descanso e mudança da parelha de lesmas (

Projeto Memória - Há 70 anos como se fosse

Projeto Memória - Registro de transcrição das Cartas de Jung, tomando como referência 70 anos, como se fosse hoje. Esse projeto de pesquisa desenvolvido desde 2017, visa resgatar momentos históricos e reflexões pessoais de C. G. Jung. 1947 (A partir do final de abril de 2017, o Projeto Memória: 70 anos como se fosse hoje, foi iniciado. Há algumas outras cartas, que serão, à medida do possível, acrescentadas a essas que estão publicadas. Obrigado pela compreensão). “To Mr. O. Zurique, 30.04.1947 Será bom para a sua humildade se puder aceitar os dons do guia inconsciente que mora dentro do senhor, e é bom para seu orgulho que ele se humilhe a ponto de o senhor poder aceitar o que lhe é dado. [...] O orgulho é uma coisa maravilhosa quando se sabe como satisfazer as suas expectativas. O senhor nunca se perguntou quem é o meu analista? E, quando chega o final, devemos ser capazes de enfrentar sozinhos, face a face, o inconsciente, para o melhor ou para o pior". JUNG, C.