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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2020

Serege Moreux

A Serege Moreux Asnières / França 20 de janeiro de 1950 Monsieur, Agradeço muito sua gentil carta, mas devo dizer que, infelizmente, devido à minha idade avançada e doença, sou forçado a limitar bastante minhas atividades, não sendo possível escrever um artigo para o seu projetado fascículo de Poluphonie. É certo que a música, bem como o drama, têm a ver com o inconsciente coletivo; basta pensar, por exemplo, em Richard Wagner. De certa forma, a música expressa o movimento dos sentimentos (ou valores emocionais) que acompanham os processo inconscientes. O que acontece no inconsciente coletivo é por sua natureza arquetípico, e os arquétipos têm sempre uma qualidade numinosa que se manifesta na acentuação do emocional. A música expressa em sons o que as fantasias e visões exprimem em imagens visuais. Não sou músico e não seria capaz de desenvolver essas ideias em detalhe para o senhor. Só posso chamar a atenção para o fato de que a música representa o movimento, o desen

Dr. Edmund Kaufmann

Ao Ministro Dr. Edmund Kaufmann (1) Stuttgart, janeiro de 1950. Exmo. Sr. Ministro! Permita-me, como estrangeiro, a liberdade de tomar o seu precioso tempo num assunto que diz respeito ao seu país. Escrevo-lhe a pedido do Dr. W. Bitter, diretor do Stuttgarter Psychotherapeutischen Lehrinstitut. A existência desse Instituto está ameaçada, em parte pelas dificuldades financeiras e, em parte e sobretudo, pela associação dos neurologistas, sob a direção do Prof. Kretschmer. O Instituto forma não só médicos mas também leigos para o trabalho psicoterapêutico. Por razões corporativas e de prestígio, este trabalho é um espinho na carne dos psiquiatras e da associação dos neurologistas. Nós tivemos a mesma dificuldade na Suíça e, em parte, ainda a temos. Mas conseguimos com muito esforço que fossem dadas preleções nas Faculdades de Medicina (de Zurique) sobre psicologia e terapia das neuroses. E há dois anos foi fundado em Zurique um instituto semelhante em suas diretrizes ao de

Padre Victor White

To Father Victor White (16ª carta, no total 31 cartas escritas entre 26/09/45 a 30/04/60) Oxford,  31 de dezembro de 1949 My dear Victor, Antes de findar o ano velho, gostaria de escrever-lhe – já tive intenções de fazê-lo antes, mas não encontrei o tempo suficiente. Primeiramente aconteceu (em fins de outubro) um acidente lamentável: minha esposa caiu no corredor (escorregando num tapete) e quebrou o braço direito à altura do ombro – uma fratura deveras grave. Ficou dois meses no hospital. Depois, eu mesmo fiquei acamado devido a uma gripe intestinal e problemas de fígado; a seguir, Marie-Jeanne Schmid (1) foi acometida de doença semelhante que a derrubou. Minha correspondência e outras obrigações poderiam ir, como de fato foram, pelos ares, isto é, entraram simplesmente no nirvana. Agora estou razoavelmente bem e posso escrever-lhe. O senhor me deu o que pensar por um bom tempo com a sua “correctio fatuorum” (2) nos Dominican Studies. Achei a exposição muito interessant

Ernesto A. C. Volkening

Ao dr. Ernesto A. C. Volkening Bogotá/Colômbia Prezado Doutor, 31 de dezembro de 1949. Como o senhor observa muito bem, o conceito de arquétipo é um assunto complexo. Em parte o arquétipo é um fator psicologicamente palpável, isto é, o inconsciente produz espontaneamente imagens arquetipicamente construídas. No que se refere à sua expressão, é evidente que estas imagens dependem sempre do lugar e do tempo. Mas o esquema das imagens é genérico e precisa ser considerado como preexistente, pois é possível comprová-lo até mesmo nos sonhos de crianças bem pequenas ou de pessoas sem cultura que não foram influenciadas de forma nenhuma pela tradição. A condição preexistente é irrepresentável, por ser totalmente inconsciente. Atua como um ordenador de material representável. E assim o arquétipo como fenômeno é, em parte, condicionado pelo tempo e pelo lugar, mas em parte é também um padrão estrutural, irrepresentável e independente do tempo e lugar, que poderia evidenciar-se como c

A Georg Krauskopf

A Georg Krauskopf Stuttgart. Prezado senhor, 31 de dezembro de 1949 O seu livro Die Heilslehre des Buddha (1949) chegou bem às minhas mãos. Entendo perfeitamente sua predileção por Buda. É algo magnífico. Eu visitei os lugares sagrados do budismo na Índia (1) e fiquei profundamente impressionado com eles, sem falar da leitura dos escritos budistas. Se eu fosse hindu, certamente seria budista. Mas no Ocidente temos outros pressupostos. Não temos atrás de nós um panteão hinduísta, mas um pressuposto judeu-cristão e uma cultura mediterrânea; por isso outras perguntas esperam resposta. Buda resolveria cedo demais a nossa conta e então aconteceria o que já aconteceu uma vez quando nós, europeus bárbaros, colidimos de repente e ruinosamente contra o riquíssimo fruto da Antiguidade – o cristianismo – e não com proveito para o nosso desenvolvimento interior. Algo em nós continuou bárbaro; na Índia as coisas são bem diferentes. Não somos hindus. Em breve lerei o seu livro com o