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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2021

Maria Folino Weld

Westtown (Massachuts) USA, 05 de dezembro de 1951.   Dear Miss Weld, Peço desculpas por estar atrasado com a resposta à sua carta. É que estive doente na primeira parte do verão, e minha correspondência se acumulou de tal forma que não consegui mais colocá-la em dia. Sua carta é interessante (1). Uma revista desse gênero pode ser muito proveitosa, se planejada corretamente e com bons colaboradores que tentam ser objetivos e não queiram apenas ventilar as suas neuroses. O livro de Glover (2) – descontadas as suas qualidades mais venenosas – é divertido: é exatamente como aqueles panfletos que se escreviam contra Freud nos primeiros anos. Naquela época eram expressão de ressentimentos, pois Freud havia pisado nos calos das pessoas. O mesmo vale para Glover. Uma crítica como a dele é sempre suspeita de compensar uma inclinação inconsciente em outra direção. Ele certamente não é tão estúpido para não entender o meu ponto de vista, mas eu toquei em seu ponto fraco onde ele reprime

Dr. Med. S.

  Ao Dr. Med. S. Alemanha, 05 de dezembro de 1951.   Prezado colega, Admira-me francamente que o senhor se deixe impressionar por T. S. Eliot (1). A conscientização em si não leva ao inferno. Ela só leva a este lugar desagradável quando se tem consciência apenas de algumas coisas e de outras, não. Na conscientização é preciso perguntar sempre o que deve tornar-se consciente. Mas ambos, tanto Eliot como principalmente Sartre, só falam de consciência, e nunca da psique objetiva, isto é, do inconsciente. É óbvio que se alguém andar sempre em círculos na consciência vai acabar no inferno. E é exatamente isto o que Sartre busca, e que Eliot gostaria de impedir com medidas claramente ineficazes. Não sinto vontade nenhuma de discutir com esses dois. Já apresentei as minhas opiniões bem antes que os dois tivessem escrito alguma coisa, de modo que quem quiser conhecê-las pode dispor delas. Com saudações do colega C. G. Jung.   O destinatário havia escrito a Jung sobre o livro

M. Esther Harding

Nova Iorque, 05 de dezembro de 1951.   My Dear Dr. Harding, Lamento profundamente estar tão atrasado com a resposta à sai carta de 6 de setembro. A razão é que não dou mais conta de minha correspondência. Ela é simplesmente demais. Além disso, preciso de tempo para o último capítulo de meu volumoso livro sobre Mysterium Coniunctionis. Ele me ocupa tanto que preciso desligar-me do mundo ao máximo. Em sua carta, a senhora me pergunta sobre os fenômenos de fantasmas. Isto é um assunto de que devo abrir mão. Não sou capaz de explicar os fenômenos localmente restritos de fantasmas. Há neles um fator que não é psicológico. É preciso procurar a explicação adequada em outro lugar. Inclino-me a acreditar que resta algo da alma após a morte, pois já na vida consciente temos evidência de que a psique existe num espaço e tempo relativos, isto é, num estado relativamente sem extensão e eterno. Provavelmente os fenômenos de fantasmas são indicações de tais existências. (...) Quanto à sincr

Ao Dr. Hans Schär, Pastor

Berna, 16 de novembro de 1951. Prezado Pastor! Quero agradecer a sua amável carta. Estou contente por não me ter condenado. O que o magoa foi também para mim um desgosto. Eu queria ter evitado o sarcasmo e a ironia, mas não consegui, pois foi este o meu sentimento. E se não o tivesse dito, estaria de qualquer forma aí oculto, o que teria sido pior. Só percebi mais tarde que eles têm seu lugar como expressões de resistência contra a natureza de Deus que nos coloca em contradição conosco mesmos. Eu tive de soltar-me de Deus, por assim dizer, para encontrar em mim aquela unidade que Deus procura através do ser humano. Isto se parece mais com a visão de Simeão, o teólogo (2), que procurava em vão Deus em toda parte do mundo, até que este surgiu finalmente em seu coração como um pequeno sol. Onde mais poderia a antinomia divina chegar a unidade, a não ser naquilo que Deus preparou para si este fim? Parece-me que só a pessoa que procura realizar a sua humanidade faz a vontade de Deus, ma

A um destinatário não identificado

Inglaterra, 01 de novembro de 1951.   Dear Mrs. N. Lamento estar atrasado com minha resposta. Sua carta chegou enquanto eu estava de férias fora de casa. De qualquer forma, não poderia tê-lo recebido nessa época. Se o senhor não tivesse tido esta recaída de tuberculose, eu o teria aconselhado a vir novamente a Zurique para conversarmos sobre as dificuldades que parecem existir entre o senhor e suas analistas. Talvez a causa esteja no fato de serem mulheres! Enquanto está engessado, o senhor tem tempo para pensar e ler; e eu o aconselho a fazer amplo uso disso. Tente descobrir o máximo sobre o senhor mesmo com o auxílio da literatura. Isto poderá dar-lhe alguma coragem masculina, de que o senhor parece estar precisando. A longo prazo, a influência psicológica de mulheres não é necessariamente benéfica. Quanto mais desamparado o homem estiver, tanto mais é evocado o instinto materno, e não há mulher que consiga resistir a esta evocação. Mas maternalidade em excesso corrói a psi

A um destinatário não identificado

Alemanha, 01 de novembro de 1951.   Prezado senhor, Infelizmente estou atrasado com a minha resposta. Estive viajando nas férias e por isso sua carta ficou esperando. O senhor experimentou em seu casamento aquilo que é praticamente um fato geral, isto é, que as pessoas são diferentes umas das outras. Basicamente, cada um permanece para o outro um enigma inescrutável. Nunca existe completa concordância. Se o senhor cometeu um erro, foi o de ter insistido demais em entender totalmente sua esposa, não levando em conta que as pessoas, no fundo, não querem saber quais os segredos que dormitam no mais profundo de sua alma. Quando se tenta penetrar demais numa pessoa, percebe-se que estamos forçando nela uma posição de defesa e despertando sua resistência. Através de nossa tentativa de penetração e compreensão ela se vê forçada a examinar dentro dela aquelas coisas que não gostaria de examinar. Cada pessoa tem seu lado escuro, do qual – enquanto as coisas vão bem – é melhor que nada s