To Prof. J. B. Rhine
Duke University
Durham (N. C.)/EUA, 18 de fevereiro de
1953.
Dear Professor Rhine,
Muito obrigado por sua gentil carta (1).
Infelizmente meu estado de saúde não é bom, o que não me permite muito
trabalho. O trabalho que planejo sobre a PES (percepção extra-sensorial) não
diz respeito ao fato em si (o senhor já fez isto com o maior sucesso), mas ao
fator emocional peculiar que parece ser uma condição muito importante e
decisiva do sucesso ou fracasso do experimento com a PES. Normalmente (ainda
que nem sempre) os casos espontâneos de PES acontecem sob circunstâncias
emocionais (acidentes, morte, doença, perigo, etc.) que despertam as camadas
arquetípicas e instintivas mais profundas do inconsciente. Eu gostaria de
examinar o estado do inconsciente nos casos de acontecimentos maiores ou
menores que ocorrem não raras vezes com os nossos pacientes. Observei vários
casos de PES em meus pacientes durante esses anos todos. A única dificuldade é
encontrar métodos adequados para estabelecer objetivamente o estado do
inconsciente. Começamos a provar estes métodos (2). São difíceis, não ortodoxos
e precisam de um treinamento todo especial. Agradeço muito o seu oferecimento
de ajuda, mas no estado atual de nossa pesquisa não saberia onde entraria o
método estatístico; espero, no entanto, chegar a um estágio em que se possa
aplicar a estatística.
É pena que meus trabalhos mais recentes
não estejam publicados em inglês. Mas o que fazer quando há ao menos dois
comitês trabalhando na publicação de minhas obras completas? Tentei
injetar-lhes um pouco de agilidade, mas estão levando mais de cinco anos com um
único volume que ainda não saiu (3). Escrevi a Mr. Barret da Bollingen Press
(4) a respeito de meu ensaio sobre a sincronicidade. Poderia ser facilmente
traduzido e publicado.
Agradeço o seu amável interesse.
Yours sincerely, C. G. Jung
(1)O Professor Rhine havia escrito a Jung
(carta de 04/02/1953) agradecendo o envio do livro de Jung-Pauli,
Naturerklärung und Psyche (Zurique, 1952). Ali está contido o ensino de Jung,
“Sincronicidade como um princípio de conexões acausais”, em que se refere
várias vezes aos estudos de Rhine sobre as “Extrasensory Perceptions”. Rhine
havia proposto testar experimentalmente a teoria da sincronicidade de Jung e
pediu sua ajuda.
(2)Por sugestão de Jung, um grupo de
pesquisadores trabalhava no Instituto C. G. Jung, de Zurique, com métodos
intuitivos como astrologia, numerologia, tarô, I Ching, etc. A pesquisa era
realizada com pessoas que haviam sofrido um acidente.
(3)O primeiro volume das Obras Completas
de Jung publicado em inglês foi Psychology and Alchemy (Bollingen Series, New
York, Collect Works, 12). Jung não tinha noção naquela época das dificuldades
para planejar uma edição de vinte volumes e esperava ansiosamente a saída do
primeiro. Mais tarde acompanhou com agradecimentos e alegria a publicação dos
diversos volumes isolados.
(4)Cf. carta a Barret, de 11/02/1954, nota
1.
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