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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2024

Henry D. Isaac

A Henry D. Isaac Kew Gardens (N. Y.) EUA, 25 de outubro de 1954.   Prezado senhor! Sua pergunta (1) é deveras atual, pois é muito provável que nenhuma medida ou proposta social tornem a pessoa humana mais consciente, conscienciosa ou responsável, mas terão antes o efeito contrário. Isto parece estar no fato de que toda aglomeração de pessoas revela uma tendência clara de diminuir o nível de consciência do indivíduo. Todos os conselhos que começam com “você deveria” mostram-se, por isso, em geral, como totalmente ineficazes. Isto se deve ao fato obvio de que apenas o indivíduo é o portador das virtudes, e não a massa. Mas este eminente e importante portador da função social está hoje em dia seriamente ameaçado pela nossa cultura ou incultura. Se pudéssemos melhorar o indivíduo, penso que teríamos uma base para a melhoria do todo. Nem mesmo um milhão de zeros podem chegar ao número um. Sou, por isso, da impopular opinião de que também um melhor entendimento no mundo só pode p...

A uma jovem da Grécia

A uma jovem da Grécia Atenas, 14 de outubro de 1954.   Dear Miss N., Quanto à sua pergunta (1), se faz diferença a seus sonhos ter lido algo semelhante a eles, devo dizer que sonhos do tipo que me enviou podem ocorrer se leu (meus livros) ou não. É natural que os sonhos peguem material de qualquer fonte disponível, seja de livros ou de outras experiências. Há pessoas que leem meus livros e nunca têm sonhos referentes a eles. Mas é verdade que, tendo compreendido o que leu, a pessoa adquire uma atitude mental ou concepções problemáticas que não tinha antes e que influenciam naturalmente seus sonhos. Não acredito que seu sonho (2) tenha sido influenciado pelo que leu. Não costumo interpretar sonhos de pessoas que não conheço pessoalmente; a gente se engana facilmente. Faço uma exceção no seu caso porque percebo que a interpretação do sonho é muito importante para a senhorita. No começo há certo medo de uma situação catastrófica – a tempestade e a escuridão. A repentina desc...

Prof. Calvin S. Hall

Western Reserve University Cleveland (Ohio)/EUA, 06 de outubro de 1954.   Dear Sir, Agradeço a gentil oportunidade que me deu para eu tomar conhecimento da psicologia de um psicólogo americano. Fiquei muito animado pelo fato de o senhor ter irado algo de positivo de meu trabalho incompetente e estou agradecido 1) por sua disposição em ouvir minhas impressões, 2) pela honestidade e sinceridade de sua intenção e 3) por sua tentativa séria de ser imparcial e deixar de lado os seus preconceitos. Mas o senhor me deixou um problema difícil de me desvencilhar. Em primeiro lugar, não consigo entender a sua maneira típica de apresentar minha obra. Para ser bem claro, usarei o seguinte exemplo: Alguém se propõe a apresentar a obra de Mr. Evans a um auditório ignorante em Creta. Para isso fala quase exclusivamente das conjeturas de Evans sobre a história e cultura minoicas. Mas por que não menciona o que ele escavou em Cnossos? Sua conjeturas são irrelevantes em comparação com o...

Destinatário não identificado

A um destinatário não identificado EUA, 02 de outubro de 1954.   Dear Mr. N., Não conhecendo eu o caso de Mrs. X, sou incapaz de dar-lhe algum conselho sobre o tratamento dela. De qualquer forma, na idade dela, uma psicose é sempre coisa séria, que ultrapassa todos os esforços humanos. Tudo depende da possibilidade de se estabelecer um relacionamento mental e moral com os pacientes. O tratamento por choque normalmente embota a capacidade mental deles, de modo que resta pouca esperança de se exercer a capacidade sobre eles. Também não vejo como quer levar seus pacientes a uma concepção religiosa da vida, se o seu próprio conceito de Deus é puramente intelectual. Eu não iria tão longe como o senhor, a ponto de dizer que as pessoas com uma concepção religiosa da vida sejam imunes a psicoses. Isto só vale em casos excepcionais. O problema da religião não é tão simples como o senhor imagina: não se trata absolutamente de convicção intelectual nem de filosofia ou de fé, mas ant...

À Aniela Jaffé

Zurique, 22 de outubro de 1954.   Prezada Aniela! Finalmente pude assimilar coerentemente suas 16 páginas sobre Der Tod des Vergil (1). Causou-me profunda impressão e admirei sua mão prodigiosa que, tateando ao longo das linhas diretrizes secretas de Broch, trouxe à luz de vez em quando algo precioso. Você tem razão: a coisa está aí dentro. Eu me admirei muito de minha relutância em deixar que se aproximasse de mim este Tod des Vergil , contra o qual opus todo tipo de empecilhos. Hoje de manhã me veio a intuição: estava com ciúme de Broch porque ele conseguiu aquilo que eu tive de proibir a mim mesmo sob pena de morte. Revirando-me no mesmo turbilhão infernal e arrebatado em êxtase pela visão de imagens abissais, ouvi uma voz que queria sussurrar-me de que era possível fazê-lo “esteticamente” (2), sabendo que porém que o artista da linguagem em mim, necessário para isso, era apenas um embrião, incapaz de real obra de arte. Eu nada mais teria produzido do que um monte de ...

Ao Dr. Josef Rudin

Zurique, 01 de outubro de 1954.   Prezado doutor, Receba meu caloroso agradecimento pelo amável envio de seu interessante ensaio sobre a liberdade (1). Devido ao desenvolvimento do pensamento científico, especialmente no campo da física, mas também agora na psicologia, tornou-se claro que a “liberdade” é um correlato necessário à natureza puramente estatística do conceito de causalidade. Ela cabe particularmente bem na categoria das coincidências significativas de que falo em meu ensaio sobre a sincronicidade. A liberdade poderia ser colocada em dúvida somente por causa da supervalorização unilateral da causalidade, que foi elevada a axioma, ainda que – estritamente falando – ela nada mais seja do que um modo de pensar. Com elevada consideração, C. G. Jung.   (1)J. Rudin, “Die Tiefenpsychologie und die Freiheit des Menschen”, Orientierung, nº 16, 31 de agosto de 1954, p. 169-173.