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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2022

Ao Dr. Stanislaw Komorowski

  Ao Dr. Stanislaw Komorowski Cracóvia/Polônia, 19 de dezembro de 1952.   Prezado colega! Receba meus agradecimentos por sua amável carta. Conheço Suzuki pessoalmente. Estudei o zen não na prática mas apenas pelo lado psicológico (1). Eu me ative mais aos desenvolvimentos europeus, que apontam para a mesma direção. Muitos caminhos levam à experiência central. Quanto mais a gente se aproxima do centro, mais facilmente se compreende também os outros caminhos que conduzem ao meio. Sem dúvida, esta preocupação é a mais importante de nosso tempo. Meus melhores votos para o natalis Solis invicti. Atenciosamente, C. G. Jung.   (1)Cf. “Prefácio à obra de Suziki: A grande libertação”, em OC. Vol. 11.

To Paul Campbell

To Paul Campbell Glasgow/Escócia, 19 de dezembro de 1952.   Dear Mr. Campbell, Muito obrigado por sua amável carta e pelo programa da reunião (1). Sei perfeitamente que os analistas enfrentam sérios problemas que, por um lado, são um agravante do trabalho já difícil em si mesmo, mas, por outro lado, uma vantagem, pois começam num mundo de pensamento e sentimento baseado em realidades arquetípicas. Eu tive no passado certo número de pacientes tuberculosos e consegui muitas vezes bons resultados com a psicoterapia (2). Mas é verdade que, na média, o caso somático sofre geralmente resistências contra um tratamento psicológico, sobretudo por parte dos tuberculosos, pois a tuberculose é de certa forma uma doença “pneumática”, isto é, afeta a respiração que mantém a vida. Tais pacientes parecem fixar-se com orgulho e obstinação no sucesso de resposta somática para um problema psicológico insolúvel. Tudo de bom para o Natal e o Ano Novo. Yours cordially, C. G. Jung.   (1)Mr.

Ao Prof. Oskar Schrenk

  Ao Prof. Oskar Schrenk Paris, 08 de dezembro de 1952.   Prezado professor! Muito me alegrou e interessou a sua carta (1). Naturalmente sua “reação” me impressionou bastante. Estava bem no sentido mais profundo de seu sonho que o senhor o tivesse contado a mim. O “professor” revela-lhe o segredo de sua “filha”. Talvez eu já deva chamar-lhe a atenção neste sonho para um pequeno erro de método, mas de graves consequências em sua interpretação. (Ele desempenha um papel maior no sonho seguinte). A crítica mais negativa do sonho em seu “produto” pode estar ligada a isto (2). O ponto de partida consciente do sonho é a leitura de meu livro ou uma impressão emocional correspondente, que evoca a imagem de seu antigo professor. O sonho vai de mim para o professor G. que ocupa toda a sua memória. G. não escreveu nenhum Jó, não tem nenhuma filha, mas é um professor ideal. Contra toda a expectativa, o sonho me silenciou e me substitui de certa forma por G. Por que faz o sonho semelhant

A Noël Pierre

A Noël Pierre, Paris, 03 de dezembro de 1952. Cher Monsieur, Agradeço o livro que me enviou (1). Eu o li realmente do começo ao fim. Isto não me acontece com frequência ou quase nunca quando se trata de poesia moderna ou de arte moderna em geral. Estas coisas me repugnam, mas alguns de seus poemas eu os li até mais de uma vez. Seus versos têm algo de vivo e real, uma vivência genuína, uma centelha de fogo divino e infernal. Por isso tenho empatia por eles. Não é um monte infantil de cacos, tirado de uma vida sem visão e sem busca. Foi a primeira vez que senti prazer numa poesia moderna. Eu o parabenizo por este sucesso, totalmente inesperado para mim. Que bom que sua poesia tenha algo a dizer e – graças a Deus – também o diz! Ela fala a linguagem eterna, a linguagem dos símbolos que nunca deixa de ser verdadeira e é compreendida “semper, ubique, ab omnibus”. Agréez, cher Monsieur, l’expression de ma sincère reconaissance. Votre très obligé, C. G. Jung.   (1)Trata-se do li

To Upton Sinclair

  To Upton Sinclair, Corona (Calif.) EUA, 24 de novembro de 1952.   Dear Mr. Sinclair, Muito obrigado por ter recebido e aceito tão bem a minha carta com minha atitude aparentemente crítica (1). Não sou muito feliz no uso da língua inglesa, por tenho a impressão   de causar muitos mal-entendidos. Gostaria, portanto, de deixar bem claro que não só valorizo plenamente o retrato magistral que faz de um Jesus pessoal, mas também a louvável tendência de seu livro: o senhor mostra a um mundo apático a possibilidade de uma abordagem pessoal de uma figura religiosa altamente discutível. É evidente que minha carta lhe deu ensejo para analisar a condição mental de seu perpetrador (2). Segundo a regra geral de que não se analisa ninguém sem antes conhecer as suas associações (se elas realmente existirem), gostaria de ajudar em sua tentativa analítica e dar-lhe algumas informações a mais: Eu tenho certa imagem de um Jesus pessoal. Foi-me sugerida imprecisamente através de certos dados do N

To Barbabra Robb

  To Barbara Robb (1) Londres, 19 de novembro de 1952.   Dear Mrs. Robb, Muito obrigado por sua amável carta que me trouxe algumas informações valiosas. Minha discussão com Victor sobre a privatio boni foi uma experiência infeliz (2). Por isso fico satisfeito em ter algumas notícias a mais sobre este problema e, dessa vez, aparentemente mais positivas, presumindo eu que o ponto fraco na doutrina da privatio boni também foi percebido por Victor. Seu sonho sobre a palavra “evil” (3) é muito instrutivo e bastante incomum em certo sentido. Ele contém resumidamente quase tudo o que se pode dizer sobre o problema do mal. Vale a pena recordá-lo. O segundo sonho (4) traz também uma demonstração excelente da estrutura dinâmica dos opostos morais em geral. Infelizmente minha doença nada tem a ver com o tempo, ou apenas indiretamente, uma vez que o esplêndido verão me seduz para uma atividade que supera minhas forças momentâneas. Estou me recuperando devagar de meu esgotamento. Agrade

To Dr. James Kirsch

  To Dr. James Kirsch Los Angeles (California)/EUA, 18 de novembro de 1952.   Dear Kirsch, Envio-lhe dessa vez uma carta em inglês, pois ainda não consigo escrever cartas à mão (1). Tive outro ataque de arritmia e taquicardia devido a excesso de trabalho. Estou aos poucos me recuperando, o pulso já bate normalmente há quase uma semana, mas ainda estou cansado e devo ir devagar. A questão (2) que o senhor coloca é muito importante e eu acho que posso entender o seu alcance. Não seria capaz de dar-lhe uma resposta satisfatória; mas tendo estudado a questão até onde foi possível, posso chamar sua atenção para o extraordinário desenvolvimento na cabala. Estou quase certo de que a árvore-sefirot (3) contenha todo o simbolismo do desenvolvimento judeu, paralelo à ideia cristã. A diferença característica é que a encarnação de Deus é entendida na crença cristã como sendo um fato histórico, enquanto que na gnose judaica ela é um processo totalmente pleromático, simbolizado pela concentração da

A Friedrich Bach

  A Friedrich Bach Schorndorf (Württ.)/Alemanha, 05 de novembro de 1952.   Prezado senhor! Muito me impressionou a sua sugestão (1). Seria a resposta que um médica deveria dar para validar o que o médico sabia desde tempos imemoriais, ou que acreditava saber. Eu nunca o disse, mas o fiz pelo menos na medida de minhas forças. É preciso mais do que uma vida para resistir, uma vez que seja, contra a influência científica na medicina. Seu ponto de vista é admiravelmente correto, e isso me deixa assombrado. Saudações cordiais, C. G. Jung   (1)O destinatário havia escrito a Jung sobre a experiência que tivera durante sua doença num hospital de tuberculosos. Sugeria a Jung que escrevesse um livro sobre “o encontro com o espírito na doença”, isto é, um livro sobre a experiência, feita na doença, de uma grandeza transcendental à vida.

To Upton Sinclair

  To Upton Sinclair (1) Corona (California), EUA, 03 de novembro de 1952.   Dear Mr. Sinclair, Li com profundo interesse o seu livro A Personal Jesus. É obra de grande mérito que ajudará seus leitores a verem sob nova luz uma figura religiosa. Fiquei curioso para saber como o senhor abordaria a difícil tarefa de reconstruir a vida de Jesus. Como filho de pastor e criado numa atmosfera intensamente teológica, ouvi falar de tentativas semelhantes, levadas a cabo por Strauss (2), Renan (3), Moore (4), etc., e anos depois li avidamente a obra de A. Schweitzer (5). Repetidas vezes, isto é, em diferentes fases de minha vida, procruei fazer para mim, a partir dos escassos testemunhos históricos do Novo Testamento, uma imagem da personalidade de Jesus, pela qual se pudesse explicar também todo o efeito de sua existência. Minha experiência psicológica deveria ter-me dado elementos suficientes para tal tarefa, mas cheguei finalmente à conclusão de que, devido em parte à escassez de dados

À senhora L. Stehli

  À senhora L. Stehli, Zurique, 31 de outubro de 1952.   Prezada Senhora, Se não estivesse velho e doente, eu me daria o trabalho de explicar-lhe pessoalmente que as ideais que as pessoas fazem de Deus não são necessariamente corretas. Deus é algo incognoscível. Um antigo místico alemão disse: “Deus é alguém que geme nas almas”. Paulo, como a senhora sabe, disse algo parecido (1). Apesar das terríveis contradições dos textos bíblicos, minha convicção religiosa pessoal não sofreu o mínimo abalo. Queria dizer-lhe isto para sua tranquilidade. Saudações cordiais, C. G. Jung.   (1)Cf. Romanos 8.26: “... porque não sabemos pedir o que nos convém. O próprio Espírito é que intercede por nós com gemidos inefáveis”.

À senhorita Pastora Dorothee Hoch

À senhorita Pastora Dorothee Hoch Riehen-Basileia, 23 de setembro de 1952.   Prezada senhorita, A senhorita tem razão: em minha última carta (1) falei muito mais do que me permitia o seu sermão. Os teólogos me criticam tanto e me interpretam tão mal que seria antinatural que eu às vezes não agredisse também. Mas não foi nada pessoal contra a senhorita. Se eu acentuo a evolução histórica do cristianismo, isto não significa que eu despreze o que de novo ele traz. Gostaria apenas de suavizar a transição para que se possa entender o sentido da mensagem. As pessoas são tão diferente! Há poucos dias, um pastor suico mais idoso escreveu-me uma comovente carta de agradecimento, dizendo que os meus escritos lhe abriram finalmente o acesso à Bíblia. Nunca esperei semelhante coisa. Mas isto indica que a linguagem figurada da Bíblia não é compreendida nem mesmo por um pastor. Os arquétipos estão presentes nem toda parte, mas há uma resistência geral contra esta “mitologia”. Por isso tamb

A Horst Scharschuch

  A Horst Scharschuch Heidelberg, 01 de setembro de 1952.   Prezado senhor, É fora de dúvida que o inconsciente chega à superfície na arte moderna e destrói com sua dinâmica a organização própria da consciência (1). Este processo é um fenômeno que pode ser observado de forma mais ou menos pronunciada em todos os tempos: assim, por exemplo, sob condições primitivas, quando a vida habitual, regulada por leis rígidas, é de repente quebrada por situações aterradoras, ligadas a uma desordenada ausência de leis nos eclipses do Sol ou da Lua, ou na forma da licenciosidade cúltica como, por exemplo, nas orgias dionisíacas, prescritas pelo culto; e entre nós na Idade Média, nos mosteiros, com a inversão da ordem hierárquica e ainda hoje no carnaval. Esta quebra episódica ou costumeira da ordem deve ser vista como medidas psico-higiênicas que desafogam de tempos em tempos as forças caóticas e reprimidas. Nos dias de hoje isto acontece obviamente na mais ampla escala, porque os ordename

Ao Dr. Hans Schär, Pastor

  Ao Dr. Hans Schär, Pastor Berna, 15 de agosto de 1952.   Prezado Pastor, Muito agradecido por me enviar sua recensão de Jó. Não o invejo por esta tarefa difícil. Mas o senhor conseguiu realiza-la de maneira bastante objetiva e também conseguiu introduzir nela alguma coisa para ouvidos mais refinados. Sua ideia a respeito da minha afinidade espiritual com Jacob Burckhardt ou, ao menos, de minha simpatia por ele, é supreendentemente correta. Burchhardt tinha plena razão em seus pressentimentos pessimistas. Não adianta nada fechar os olhos para o lado escuro. Estou feliz que uma exposição tão criteriosa e equilibrada tenha chegado a uma revista teológica. Aliás, é a primeira que chegou lá. Se bem entendi, o senhor estaria disposto a visitar-me durante o mês de setembro. Neste mês estarei em Bollingen, onde o receberei com muito prazer, bastando me avisar com alguns dias de antecedência. Até lá, com saudações cordiais, C. G. Jung   (1) Hans Schär, “C. G. Jung und dir

To Joseph L. Henderson

  To Joseph L. Henderson, M.D. (1) San Francisco (California)/EUA, 09 de Agosto de 1952.   Dear Henderson, Muito obrigado por sua gentil carta! Estou contente por ter tido a oportunidade de falar com X. Y. (2). Ela está “melhor concatenada” do que eu pensava. O equilíbrio se mantém cuidadosamente, ainda que um pouco ansiosamente. Há muita insegurança e incerteza quanto ao caos vulcânico na profundeza. A consciência deveria ser fortificada, uma vez que precisa de um forte ego para contrabalançar as emoções dormentes. É grande a incerteza se ela será capaz de livrar-se da identificação com o inconsciente coletivo. Ela precisa de “theoria” (3), isto é, de conceitos simbólicos que lhe darão a possibilidade de “compreender” os conteúdos do inconsciente. Eu tentaria interessa-la por um conhecimento geral, teórico dos conteúdos básicos do inconsciente e de seu significado para a individuação. Eu percebi um certo brilho nela quando nossa conversa tocou temas correlatos. Quanto mais ela